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“Thor: Ragnarok” sai do armário: é comédia, e pronto

O diretor Taika Waititi junta o melhor de cada um dos mundos: visual fantástico, ação extravagante, humor nonsense e elenco feliz da vida

Por Isabela Boscov 26 out 2017, 13h36

Quem viu o “documentário” O que Fazemos nas Sombras, sobre três vampiros que racham o aluguel em Wellington, na Nova Zelândia, e brigam para ver de quem é a vez de lavar a louça (suja de sangue, claro), sabia o que esperar do diretor Taika Waititi: tudo de bom. Pois Waititi se sai ainda melhor do que a encomenda. Acostumado a orçamentos microscópicos, ele maneja os 180 milhões de dólares de produção de Thor: Ragnarok com a desenvoltura de quem tivesse gastado dinheiro a vida inteira – mostrando tudo na tela, mas sem jamais perder o tempo da comédia. Porque isso é o que a série Thor queria ser desde que nasceu, em 2011: comédia de verdade, com uma puxada forte para aquele nonsense do Monty Python (mesmo no universo de impossibilidades dos super-heróis, algumas coisas são mais viajandonas do que outras – por exemplo, um deus viking que mora num planeta furta-cor –, e não há dúvida de que Thor e Chris Hemsworth ganharam a plateia no primeiro filme não com os diálogos fake-arcaicos e os momentos pseudo-sérios da direção de Kenneth Branagh, mas com o trecho em que Natalie Portman e Kat Dennings acham que ele é um sem-teto saradão foragido de algum manicômio).

Thor: Ragnarok
(Marvel/Disney/Divulgação)

Waititi abraça com gosto a vocação de Thor. O roteiro é uma delícia: Thor volta para Asgard para avisar o pessoal que um demônio quer trazer até eles o Ragnarok, o fim dos dias viking, mas encontra todo mundo relax no lar dos deuses – coisa de Loki, que anda se fazendo passar por Odin, o pai deles (procure um ator muito conhecido numa ponta engraçadíssima). Toca ir procurar o verdadeiro Odin, e encontrar o que nem Thor nem Loki imaginavam ter – uma irmã mais velha que é uma peste. Hela (Cate Blanchett) foi banida de Asgard por Odin; é a deusa da morte não por decreto, mas por mérito mesmo. É louca pela coisa (e Blanchett, que ganha uma galhada sinistra sempre que entra em modo operacional, está ma-ra-vi-lho-sa). O Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) entra e sai da história; Thor vai parar num planeta remoto que é o ferro-velho de todo o universo, comandado por um sujeito com um parafuso a menos (Jeff Goldblum, sensacional), e tem de lutar na arena contra Hulk (Mark Ruffalo). Uma valquíria chegada num drinque (Tessa Thompson) e um gladiador meigo com complexo de Spartacus (o próprio Taika Waititi) completam o time que vai se encontrar em Asgard para um tira-teima de proporções cósmicas.

Thor: Ragnarok
(Marvel/Disney/Divulgação)

Waititi nunca perde uma piada, mas também não perde o fio da meada. Na verdade, ele o reencontra: Thor aqui não é Vingador, é viking, e em escala mitológica. Dá-lhe martelo, espada, lança e clava, gritaria e gente correndo para o abraço; todo mundo voa e se choca no ar, Hulk destrói um estádio inteiro quando leva um chute e bate na parede. Tudo é colorido e extravagante – e, frequentemente, eletrizante (e como não seria, com aquela massa de som de Immigrant Song, do Led Zeppelin,empurrando tudo à frente?). O humor e o senso do absurdo valeram a Waititi a sua contratação, mas esse aspecto do trabalho dele é uma surpresa: o dom para o espetacular e para a ação que é tão mais arrebatadora quanto mais fantástica (nos dois sentidos da palavra) se torna – sem nunca deixar de ser, também, hilariante. Honestamente, é um alívio ver a série sair do armário de vez. Mais aliviada do que eu, ainda, estão Chris Hemsworth e Tom Hiddleston, felizes como em nenhum outro filme antes deste. Até Anthony Hopkins se diverte. Um sujeito capaz de fazer isso acontecer tem, de fato, superpoderes.

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THOR: RAGNAROK
Estados Unidos, 2017
Direção: Taika Waititi
Com Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Cate Blanchett, Mark Ruffalo, Anthony Hopkins, Benedict Cumberbatch, Tessa Thompson, Jeff Goldblum, Karl Urban, Idris Elba, Taika Waititi
Distribuição: Disney
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