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Jorge Pontes

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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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Bet on-line: ameaças e oportunidades

Sempre há um risco das apostas impactarem negativamente aspectos centrais da desportividade no futebol

Por Jorge Pontes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 Maio 2024, 15h12

Elencado pela britânica BBC como um dos 100 melhores filmes do Século XXI, e também ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, o argentino O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella, teve ainda a façanha de conter a sequência que é considerada a melhor cena futebolística da história do cinema.

Em busca do rastro de um assassino cuja paixão irrefreável é o time de futebol Racing Club, o investigador Benjamin Esposito (personagem do ator Ricardo Darín) se lança numa diligência policial no estádio lotado do Huracán, onde se enfrentam o Racing e o dono da casa.

O filme, cujo tema central são as paixões humanas de uma maneira geral, nos traz a interessante mensagem de que jamais conseguimos nos desatar das nossas paixões. E, em se tratando de argentinos, o futebol não poderia deixar de ser enfocado como algo de fato arrebatador. A bem da verdade, a nossa realidade no Brasil não é diferente.

Dito isso, em recente pesquisa divulgada pelo site Bolavip Brasil, soubemos que 15 dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro contam com uma casa de bet on-line como principal anunciante em suas camisas. Isso faz do Brasil o primeiro colocado na lista dos países com maior domínio de casas de apostas como patrocinadores masters de clubes de primeira divisão.

O fato é que, onde poderia haver o nome de uma marca de café, de uma distribuidora de combustíveis, de uma fábrica de cimento, de um produto alimentício ou de uma montadora de automóveis – com atuações no nosso mercado (que é a nona economia do planeta), está uma casa de apostas on-line…

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Não sei até que ponto essa febre por apostas on-line tem alguma relação com a nossa paixão pelo esporte bretão. A verdade é que sempre há um risco da atividade impactar negativamente aspectos centrais da desportividade no futebol. Até porque não se aposta somente no time que vai ganhar ou nos jogadores que vão balançar as redes, mas em situações secundárias, que não guardam apelos esportivos ou envolvem paixões, como, por exemplo, quem vai provocar o primeiro lateral, quem vai levar cartão amarelo ou quem vai colocar a mão na bola. Afinal, game e gambling são vocábulos parecidos com significados bem distintos.

Já tivemos casos de escândalos em países da Europa envolvendo jogadores que fraudaram resultados, por conta de apostas on-line. Tais casos provocaram a atuação da Interpol, que posteriormente se associou à Fifa num interessante programa pela integridade no esporte. A partir daí, com a participação de policiais federais brasileiros em grandes eventos esportivos internacionais, tanto aqui como no exterior, começamos a desenvolver mão de obra especializada com expertise em legalidade e integridade nos esportes. Foi exatamente o caso do Agente de Polícia Federal Tiago Horta, que já desenvolveu importantes projetos dessa natureza pela Sub-Regional da Interpol em Buenos Aires e hoje é um capital humano da PF na área.

Contudo, apesar dos riscos no campo esportivo, entendemos que a pior escolha seria a proibição, que efetivamente não iria impedir a atuação de operadores de apostas on-line estabelecidos em off-shores. E nem tampouco impediria que nossas partidas sejam objeto de apostas em plataformas sediadas no exterior.

Noves fora os negativos efeitos colaterais conhecidos de toda a jogatina, além de milhares de novos empregos, o negócio tem potencial de gerar riqueza e o recolhimento de milhões em tributos. Que o digam as principais equipes do nosso futebol. Bom lembrar que a atividade nasceu com o advento da Lei 13.756/2018, que criou as “apostas de cota fixa sobre temática esportiva”, nome técnico dessa modalidade de jogo de azar.

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Sempre bom lembrar que tudo o que é autorizado e permitido pode (e deve) ser minudentemente regulamentado. No caso em questão a regulamentação das casas de apostas on-line deve ser discutida e aperfeiçoada com detalhes, e levada a cabo com o máximo de retidão.

Em um país que vem perigosamente perdendo terreno no enfrentamento à corrupção, e onde o crime organizado vem conquistando avassaladoramente setores da economia e mercados estratégicos, temos que seguir concebendo uma regulamentação anticrime by design e, também, com a capacidade de rastreamento de 100% das apostas. Caso contrário, as plataformas de betting serão irremediavelmente utilizadas como lavanderias para diversas morfologias criminosas.

Deve ser igualmente indispensável a realização de rigorosa due diligence em todos os indivíduos e empresas que se propuserem a se estabelecer nesse ramo.

Por oportuno, com o arrefecimento do interesse pelo jogo do bicho, ocorrido com as novas gerações de brasileiros, temos também que nos precaver para que as organizações criminosas formadas em torno dessa contravenção não acabem migrando para as apostas on-line.

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Por derradeiro, é bom lembrar que foi um gângster quem idealizou Las Vegas como paraíso dos jogos de azar, no meio do deserto no estado de Nevada, no oeste dos EUA.

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