No cemitério da política baiana jaz, muito a contragosto, a aliança entre o PT de Lula com o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, líderes do Centrão.
Teve treze anos de vida, sob tutela do senador e ex-governador Jaques Wagner em parceria com João Leal, vice-governador, ex-prefeito da cidade de Lauro de Freitas e dono do PP no Estado, quarto colégio eleitoral do país.
Aos 76 anos, Leão não escondia a expectativa de encerrar a vida na política em dezembro, na cadeira de governador hoje ocupada por Rui Costa.
Para Lula seria o melhor dos mundos. Líder absoluto em todas as pesquisas feitas na Bahia, reuniria o PSD do senador Otto Alencar e o PP de Leão, Nogueira e Lira. Além, é claro, de Wagner e do governador Rui Costa, ambos de reconhecida densidade eleitoral.
Wagner era o predileto para a disputa, mas escolheu continuar senador até 2026. Desenhou com Lula uma conciliação: Otto Alencar deixaria o Senado para concorrer ao governo estadual; Rui Costa tentaria a vaga no Senado com grandes chances, e, o vice João Leão assumiria no entre abril e dezembro, encerrando a carreira como governador.
A cúpula se acertou, mas esqueceu um detalhe: combinar com a base petista e com os aliados locais do PSB, do PCdoB, do Avante e do Podemos. Quando souberam, se rebelaram contra o “caciquismo”, expressão mais suave que se ouviu.
A construção virou ruína com o veto público a Leão, reputado como a face baiana do Centrão, esteio parlamentar de Jair Bolsonaro no Congresso. Rejeitaram entregar ao vice-governador todo poder sobre negócios do Estado, que, paradoxalmente, partilharam com ele nos últimos 13 anos.
No condomínio do PT na Bahia, Leão detinha orçamentos, cargos, empresas estatais e contratos privados das secretarias de Planejamento, de Desenvolvimento Econômico e de Recursos Hídricos.
Wagner foi conversar com o vice na sexta-feira 4 de março. “Ele esteve na minha casa e confirmou todo o nosso acordo”, contou Leão, ontem. Três dias depois, escutou Wagner dizer a uma rádio baiana que não havia acordo nenhum. Não gostou: “Mudou a regra do jogo e fez isso sem discutir absolutamente nada conosco.”
Sob pressão, Wagner e Lula convenceram Rui Costa a ficar até no fim no governo. Ele aceitou e nomeou Jerônimo Rodrigues, secretário de Educação, para disputar o governo estadual pelo PT, contra Antônio Carlos Magalhães Neto, ex-prefeito de Salvador e líder do partido União Brasil. Otto Alencar foi liberado para seguir na campanha de reeleição para o Senado.
Sobrou Leão. Ele entrou num avião em Salvador e desembarcou em Brasília, na sala de Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência. Estava acompanhado do filho que é deputado-federal, Carlos (Cacá), vice-líder do PP na Câmara.
Comunicou a decisão de romper a antiga aliança com o PT. Deu uma alegria a Bolsonaro, que tem pesadelos com aliados do Centrão associados a Lula no front nordestino. Ontem, implodiu tudo: “Acabou, houve quebra de confiança.”
Leão correu para o abraço com o principal adversário do PT na Bahia, ACM Neto. Amanhã, talvez encontre Bolsonaro, que vai a Feira de Santana com o seu candidato ao governo estadual, João Roma, do partido Republicanos. Ministro da Cidadania, Roma corre risco de ficar isolado se não tiver apoio do PP de Leão.
Para Bolsonaro, ver o PP rompido com o PT foi um bálsamo. Mas, como todo lenitivo, o efeito é temporário. ACM Neto conduz sua campanha para o governo estadual à semelhança de Lula na disputa presidencial — negocia tudo e com todos, inclusive com o PP de Leão, ao mesmo tempo. Já incorporou até a possibilidade do voto “LulaNeto”.