Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

A Pfizer venceu Bolsonaro

Resiliência empresarial superou um governo que demitiu o bom senso ao preferir cloroquina em vez da vacina

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 jun 2021, 17h45 - Publicado em 2 Maio 2021, 10h00

Em maio do ano passado, quando o país contava quinze mil mortos na pandemia, o governo já havia recebido uma oferta de vacinas da Pfizer-BioNTech. Demorou um ano para decidir a contratação.

O primeiro lote, com um milhão de doses, só chegou a São Paulo na noite da última quinta-feira, quando o total de mortes ultrapassava 400 mil — quase o triplo da quantidade de vítimas da bomba atômica em Hiroshima, em 1945.

Carlos Murillo e Márjori Dulcine, executivos da Pfizer no Brasil, estiveram no Ministério da Saúde oferecendo o imunizante, pela primeira vez, em abril de 2020. Em fase de desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos, na época começavam os testes com 43 mil voluntários — entre eles 2.900 brasileiros.

A subsidiária brasileira da Pfizer mostrou resiliência. Enfrentou manifestações de desdém na Esplanada dos Ministérios e na Presidência da República. Os executivos tentavam apresentar uma solução em meio à emergência sanitária, mas eram tratados a “chá de cadeira” em Brasília.

Em setembro, o chefe da Pfizer nos Estados Unidos tentou ajudá-los. Albert Bourla mandou carta a Jair Bolsonaro apelando por uma rápida definição sobre a compra da vacina. Mencionou riscos de escassez, para o Brasil, numa etapa de “a alta demanda” mundial. A decisão presidencial ainda demorou 22 semanas.

Continua após a publicidade

Não era caso isolado. O Instituto Butantan, de São Paulo, atravessou todo o segundo semestre oferecendo a CoronaVac. Remeteu à Saúde três propostas de contrato. Só recebeu resposta efetiva em janeiro.

O governo esconjurava as vacinas, enquanto apostava dinheiro público em pílulas miraculosas de cloroquina. Turbinou a fabricação. Aumentou em 30% a produção, que passou da média mensal de 8,9 milhões de comprimidos para 11,6 milhões. No país onde o consumo era de pouco mais de 300 mil unidades por ano, chegou a montar um estoque suficiente para abastecer o mercado nacional por décadas.

Inútil, já se sabia no Palácio do Planalto. Ali, desde o fim do verão, chegavam estudos médicos com alertas sobre ineficácia e riscos em terapias alternativas contra a Covid-19. Mas Bolsonaro insistia na hidroxicloroquina.

Continua após a publicidade

Com caixas do remédio sobre a mesa, chegou a reunir meia dúzia de ministros, representantes da Anvisa e médicos para discutir um decreto presidencial impondo o uso das pílulas na rede pública hospitalar como “tratamento precoce” contra o vírus. O texto morreu de inanição política.

Agora, o governo corre atrás dos produtores de vacinas, depreciado pela descrença nas ruas, nas pesquisas, no Congresso e no Judiciário.

O jogo da irracionalidade política derivou numa crise de confiança, cujas consequências devem se espraiar até às eleições gerais de 2022.

Continua após a publicidade

Em breve, historiadores devem resgatar a memória dessa crise. Vai-se contar em detalhes como aconteceu a perda de controle da maior tragédia sanitária do século no país equipado com um sistema de saúde de eficiência comprovada na vacinação em massa em emergências epidêmicas — do sarampo à meningite.

Um enigma a ser decifrado é o da suposta fé no milagre em pílulas, em prejuízo do interesse público. Não chega a ser novidade na biografia de Bolsonaro. Cinco anos atrás, quando era deputado, ele comandou o lobby parlamentar da fosfoetanolamina. Mesmo sem base científica, a “pílula da cura do câncer” foi liberada pelo Congresso em lei sancionada por Dilma Rousseff. O Supremo vetou, a pedido de entidades médicas.

Em livro recente, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sugere que a preferência à cloroquina no lugar da vacina teria origem numa nebulosa lógica econômica. Mandetta poderia explicar na CPI, na terça-feira, como e por que o bom senso acabou demitido do governo a que serviu.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.