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Informação e análise
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‘Abin paralela’ de Bolsonaro espionou políticos em eleições no Rio

Estrutura clandestina de espionagem "possui ramificações ainda não totalmente identificadas" em órgãos governamentais, diz a polícia  

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 16h31 - Publicado em 30 jan 2024, 08h00
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  • “Fato novo”, argumentou a Polícia Federal ao juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

    A novidade estava nas evidências coletadas sobre vínculos do aparato de espionagem ilegal de parlamentares e juízes do STF com Jair Bolsonaro, seus filhos parlamentares e políticos aliados, no período 2019 e 2021. Com aval da Procuradoria-Geral da República, Moraes autorizou a ofensiva policial contra o vereador carioca Carlos Bolsonaro.

    Operador de campanha e das redes sociais do pai-presidente, nos primeiros meses do governo Bolsonaro ele anunciou aos então ministros Gustavo Bebbiano (Casa Civil) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo da Presidência) a intenção de criar uma “Abin paralela”. Bebbiano relatou o episódio em 2020, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.

    Dias atrás, Carlos foi indicado para presidir o diretório do Partido Liberal no Rio, no primeiro passo efetivo para consolidar a candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem à prefeitura da capital fluminense.

    Ramagem, delegado federal, passou da segurança de Jair Bolsonaro na campanha de 2018 à direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência. Levou uma dúzia de policiais federais para a Abin. Dali saiu para se eleger deputado federal pelo PL, em 2022, com 59 mil votos.

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    Foram ao menos 36 meses de “ações clandestinas”, informa juiz Moraes em despacho. No alvo estiveram aqueles que o governo Bolsonaro considerava “inimigos políticos”.

    Evidências encontradas nos telefones e computadores apreendidos com o deputado Ramagem indicam o uso ilegal de “ferramentas e serviços” da Abin para “serviços e contrainteligência ilícitos” e, também, “para interferir em diversas investigações da Polícia Federal”. É o que se relata na decisão judicial.

    Há um pouco de tudo. Exemplo: “Anotações cujo conteúdo remete à tentativa de associação de deputados federais – bem como ministros do Supremo Tribunal Federal—, à organização criminosa conhecida como PCC (Primeiro Comando da Capital).”

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    E mais: espionagem ilegal de funcionários públicos “para fins políticos”. Um deles, Hugo Ferreira Neto, dirigia operações do Ibama contra garimpeiros ilegais em terras indígenas na Amazônia e acabou demitido por ordem de Jair Bolsonaro, a pedido de parlamentares federais.

    Foram muito além, alegou a polícia ao juiz Moraes. Encontraram-se indícios de tentativa de interferência ilícita na campanha eleitoral de 2020 no Rio.

    A cidade é a principal base de Bolsonaro e dois dos seus filhos parlamentares, o vereador Carlos e o senador Flavio. Ele venceu a eleição presidencial de 2018 com 66,3% dos votos nas urnas cariocas. Em 2022 ganhou a disputa local, com 52,6%, mas perdeu a presidência para Lula .

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    Na quinta-feira 20 de fevereiro, início da temporada de eleição municipal, Ramagem imprimiu “informações sigilosas” obtidas de forma ilegal na Abin a partir de vários inquéritos da Polícia Federal no Rio. A autoria da impressão foi comprovada pela Controladoria-Geral da União.

    Ele compôs uma listagem de nomes de políticos locais mencionados em investigações — como testemunhas, vítimas ou suspeitos —, alinhados por número, nome, cargo e partido político relacionados a inquéritos em andamento na unidade da Polícia Federal que é responsável pelas “apurações eleitorais” no Rio.

    O objetivo era “obter ganho de ordem política, posto que criavam narrativas para envolver autoridades públicas”, como também “’fiscalizar’ indevidamente o andamento de investigações” de aliados políticos”.

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    As atividades da Abin de Ramagem e do clã Bolsonaro estão sob investigação, simultânea, em várias instâncias (Congresso, Supremo, Tribunal Superior Eleitoral, Polícia Federal, Ministério Público, Controladoria-Geral e Tribunal de Contas da União). É parte de um mosaico de espionagem ilegal que envolve organismos federais e estaduais de segurança.

    Os documentos do Supremo, da procuradoria-geral e da polícia deixam claro que “a estrutura paralela instalada na Abin executava tarefas clandestinas”, mas não era a única envolvida com a espionagem ilegal no governo Bolsonaro.

    Ao juiz do caso, a PF antecipou chances de identificação “de ainda mais núcleos de atuação da organização criminosa, com participação de outros agentes ainda não identificados”. Significa que a “Abin paralela” anunciada por Carlos Bolsonaro em 2019, no Palácio do Planalto, é muito mais ampla: “Possui ramificações ainda não totalmente identificadas.”

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