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Acordo Bolsonaro-ACM Neto abre portas do DEM à teologia da prosperidade

Entrega do DEM-Rio ao televangelista e radical Silas Malafaia representa guinada na condução do partido, antigo reduto de defensores do liberalismo

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 ago 2021, 09h00
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  • Jair Bolsonaro e Antonio Carlos Magalhães Neto, presidente do Partido Democratas (DEM), ex-prefeito de Salvador e candidato ao governo da Bahia, se acertaram sobre as eleições do ano que vem.

    O acordo foi intermediado pelo televangelista Silas Malafaia. Ele é líder da fração neopentencostal Vitória em Cristo, nascida no bairro da Penha, no Rio, dona de uma centena de templos no Rio, Minas Gerais, Pernambuco e Espírito Santo, e, também, de uma bancada de meia dúzia de deputados federais abrigados em diferentes partidos.

    Bolsonaro incorpora à sua campanha de reeleição toda a estrutura do DEM em cidades consideradas estratégicas à sua campanha de reeleição.

    Em troca, o ex-prefeito de Salvador obtém garantia de apoio do governo e consolida uma aliança de ativistas evangélicos para a disputa contra o PT na Bahia, que há década e meia detém a hegemonia eleitoral no governo estadual, nas bancadas legislativas e em 410 dos 417 municípios.

    O acordo Bolsonaro-ACM Neto para 2022, na prática, formaliza uma situação existente: o DEM apóia o governo desde o início, mantém dois ministros (Tereza Cristina, na Agricultura, e Onyx Lorenzoni, no Trabalho) e integra o aglomerado parlamentar governista conhecido como Centrão.

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    Para ACM Neto, a prioridade é a reconquista do domínio eleitoral perdido na Bahia desde a morte do avô, Antônio Carlos Magalhães, em 2007.

    Deixou isso claro quando o deputado carioca Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, passou a confrontar Bolsonaro. Em seguida, ajudou o governo a alavancar a eleição de Arthur Lira (PP-AL) na Presidência da Câmara, isolando Maia que pretendia eleger o sucessor. Expulsou-o do partido no mês passado, em rito sumário e sem ocultar traços de vingança pessoal.

    Na quarta-feira passada, sem aviso, fez uma intervenção no diretório do DEM no Rio, presidido pelo vereador Cesar Maia, pai do deputado Rodrigo, ex-prefeito da capital e candidato ao governo estadual no próximo ano.

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    Entregou o DEM no Rio a Malafaia, que passa a controlar uma base partidária no terceiro maior colégio eleitoral do país (13 milhões de pessoas).

    Com isso, abriu as portas do partido ao ativismo neopentecostal que cresce na esteira do televangelismo da teologia da prosperidade. Representa uma guinada na condução do Democratas, partido de centro-direita que nasceu em 1985 como reduto de defesa do liberalismo — chamava-se Partido da Frente Liberal (PFL).

    Desde os anos 70, o Rio tem sido uma plataforma para o ativismo de grupos neopentecostais. O grupo de Malafaia vai disputar votos nos redutos evangélicos — uma fatia de 20% do eleitorado fluminense — já pulverizados, mas com ascendência da Assembleia de Deus (Convenção Geral), com a qual ele rompeu há uma década. A máquina eleitoral mais dinâmica nesse segmento, até agora, tem sido a da Universal do Reino de Deus, do televangelista Edir Macedo, que é dona do Partido Republicanos.

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    A anexação do DEM-Rio por Malafaia amplia as possibilidades de avanço dos pregadores da teologia da prosperidade nas eleições para o Congresso e assembleias legislativas, no próximo ano.

    Eles competem por fiéis e por votos nas mesmas áreas de periferia urbana, mas convergem para Bolsonaro.

    Alguns identificam nele a chance de defesa de uma agenda conservadora nos costumes, considerada essencial no embate permanente com o liberalismo católico e o laicismo estatal.

    Outros, encontraram afinidade no radicalismo. É o caso de Malafaia. Ele tem viajado com Bolsonaro na campanha pela reeleição. Ontem fizeram um comício em Florianópolis.

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