Alckmin negocia, mas governo prevê ‘reciprocidade’ aos EUA em agosto
Em Santiago, Lula provocou: “A guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump”

Começaram as conversas entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos sobre as sanções anunciadas por Donald Trump. Elas abrangem desde a taxação de 50% para todos os produtos brasileiros, a partir da sexta-feira 1º de agosto, até uma ampla investigação direcionada para amparar punição às alegadas “práticas desleais” brasileiras no comércio com os EUA.
As “consultas” entre governos foram previstas por Jennifer Thornton, conselheira-geral da USTR, a agência responsável pela política comercial dos Estados Unidos, no comunicado da semana passada sobre o inquérito comercial contra o Brasil. “Nós estamos em conversa pelos canais institucionais”, confirmou Geraldo Alckmin, vice-presidente da República 1que também é ministro da Indústria e do Comércio. “É de forma reservada”, ele disse, “as conversas estão caminhando pelos canais institucionais e de forma reservada.”
Em Washington não se vê motivo para negociar com o Brasil, cuja vulnerabilidade será realçada com a sanção tarifária sobre a agricultura e a indústria.
Já em Brasília, o impasse tem sido considerado confortável para o governo, com tendência de melhoria na avaliação dos eleitores confirmada nas pesquisas divulgadas na semana passada.
Trump tropeçou no sequestro virtual de parte da economia brasileira por interesse específico, estritamente pessoal e irrealista: anular o julgamento de Jair Bolsonaro por crimes contra a Constituição, entre eles tentativa de golpe de estado.
Sem querer, Trump deu um alento a Lula, que aproveita o momento para lapidar a opinião muito boa que já tinha sobre si mesmo e, também, sobre o próprio governo.
Nesta segunda-feira em Santiago, por exemplo, exibiu-se embriagado na soberba: “Nós não estamos numa guerra tarifária, a guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump.”
A reação, completou Rui Costa, chefe da Casa Civil, será proporcional: “Se dia primeiro chegar e as medidas forem implementadas, o Brasil anunciará um conjunto de medidas garantindo a reciprocidade.”
Todos sabem que é guerra sem vencedores. As perdas seriam extensivas para cerca de dez mil empresas relevantes na economia de todos os estados, e, principalmente, em São Paulo de onde saem 34% das exportações para os EUA. A mescla de interesses operacionais e financeiros envolve, também, prejuízo potencial para cinco mil subsidiárias de companhias dos EUA instaladas no país. Entre essas estão as representações nacionais das “big techs”.
Ontem, Alckmin se reuniu com executivos locais da Apple, Meta, Google (tecnologia), Visa (pagamentos) e Expedia (serviços de turismo). Definiram uma lista de assuntos para nova reunião. Será o segundo ato do balé do vice-presidente com o setor privado num enredo que vai definir o rumo do governo nos 18 meses que lhe restam.