A agonia do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), coincide com uma nova fornada de pedidos de impeachment.
Vista da cadeira do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, a paisagem nunca foi tão amena: aumentou seu espaço na liderança do Centrão, ao mesmo tempo em que Jair Bolsonaro ficou mais dependente do seu poder monocrático sobre os pedidos de impeachment.
Nem por isso, Lira deixa de sonhar com dias ainda melhores no Congresso. Na ensolarada tarde de ontem, por exemplo, o presidente da Câmara se arriscou a prever o epílogo da CPI do Senado: “Se, com a notícia que tivemos hoje, [a CPI] decidiu judicializar uma denúncia contra o presidente da República, ela sai da esfera política e vai para esfera técnica e judicial.”
Acrescentou, em tom esperançoso: “Agora é esperar o posicionamento do procurador-geral da República e a gente acatar o que o procurador decidir. A questão agora virou judicial.”
Sendo um problema judicial, deixaria de ser político, e a vida poderia seguir da forma como Lira deseja — principalmente, sem a incômoda jornada diária de exposição na tevê e no rádio do seu principal adversário em Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.
O problema de Lira, do Centrão e de Bolsonaro, é aquele que, certo dia, o falecido deputado Ulysses Guimarães (MDB-SP), então na presidência da Câmara, definiu como “Sua Excelência, o fato”.
Ontem, hora depois de Lira prever o fim da CPI, o inesperado lhe fez uma surpresa. Surgiram novas e incandescentes denúncias de pedidos de propina no governo Bolsonaro.
Lira brigou com a realidade e acabou atropelado por “Sua Excelência, o fato”. É sempre possível ignorá-lo, mas ele é, de fato, um chato — insiste em continuar existindo.