Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise

Brasil está sem rumo e sem diálogo nas relações com os EUA

Governo brasileiro não tem “canais abertos” em Washington, restringe-se à rotina diplomática. Há empresários tentando aproximação, ainda incerta

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 fev 2025, 16h21 - Publicado em 11 fev 2025, 08h00

À pergunta sobre como pretende reagir a Donald Trump, o presidente francês Emmanuel Macron tem repetido a mesma receita: “Boa relação e diálogo franco, temos canais abertos.”

“A União Europeia é o principal problema dos Estados Unidos?”, divagou Macron no fim de semana em conversa com o jornalista Richard Quest, da CNN. “Eu não acho. Seu primeiro desafio é a China, e é nisso que deveriam focar. Se querem aumentar investimentos em segurança e defesa, não deveriam prejudicar as economias europeias ameaçando a integração entre os dois blocos. Isso só aumentaria custos e criaria inflação nos EUA. É isso que o povo americano quer? Não tenho certeza.”

Lula escolheu um roteiro praticamente oposto ao de Macron. “O presidente Trump fez a campanha (eleitoral) com base em bravatas”, criticou dias atrás. Depois, acenou com a sua receita guerreira: “É simples: se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil. É muito simples, não tem nenhuma dificuldade.”

Não há simplicidade alguma. Muito ao contrário, sobra complexidade para o Brasil de Lula no novo mapa-múndi.

Trump ensaia uma guinada radical dos Estados Unidos a partir do funeral de uma era de capitalismo liberal, que foi liderada por Washington desde a Segunda Guerra.

Continua após a publicidade

De um lado, seu projeto depende da construção de uma “Internacional reacionária”, como define Macron.

De outro, está limitado pela natureza das relações com a China. E esse “é um jogo de bola totalmente diferente”, observou na semana passada Ian Bremmer, da consultoria Eurasia. “Ela tem tamanho e influência para revidar contra os Estados Unidos de maneiras que outros países não conseguem. E vai revidar.”

Esta semana começou com Trump decretando sobretaxa (de 25%) nas importações de produtos de aço e de alumínio. O efeito no Brasil é a desorganização da produção e do mercado desses insumos industriais, empregadores e contribuintes urbanos relevantes.

Continua após a publicidade

Há meses, as siderúrgicas nacionais alegam concorrência desleal e tentam convencer o governo a aumentar tarifas sobre as importações chinesas. Industriais do aço entendem que taxas maiores sobre o produto da China poderiam vir a ser um trunfo para Brasília nas relações com Washington. É uma perspectiva restrita aos interesses específicos de um segmento empresarial.

Até agora, o Brasil de Lula se mostra sem rumo e sem diálogo nas relações com os EUA. O governo transparece falta de preparação para reagir, por exemplo, ao cenário provável das “tarifas recíprocas” — plano anunciado por Trump na campanha eleitoral, repetido nesta segunda-feira aos jornalistas na Casa Branca e, também, em entrevista à Fox News.

A tarifa média dos EUA sobre suas importações é quase um terço da brasileira. Reciprocidade, no caso, teria efeitos negativos diretos sobre fatia expressiva (quase um quarto) de todas as exportações do Brasil.

Continua após a publicidade

Brasília não é relevante em Washington, mas o país mantém com os Estados Unidos a mais decisiva das suas relações externas. Lula resolveu fazer uma aposta pública contra Trump às vésperas da eleição de novembro passado (“É o nazismo e o fascismo voltando a funcionar com outra cara”.)

Na sequência, nem se preocupou em deixar portas abertas à conversa, essência da política, como fizeram os presidentes da França, do Canadá e do México, igualmente críticos do projeto de poder que Trump desenha.

Pela primeira vez desde a redemocratização, o governo brasileiro não tem “canais abertos” em Washington. Por decisão própria, restringe-se à rotina diplomática. Há empresários tentando uma aproximação, ainda incerta.

Trump pode ser “bravateiro”, como acha Lula. Mas a opção pelo monólogo contém riscos. Entre outros, está o de uma eventual escalada na desconfiança entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, já estão em rota de colisão. É jogo com um único vencedor: a China, que não é um tigre de papel.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.