Alguma coisa está fora de ordem quando o governo anuncia que tem sido rotineira, nos últimos cinco anos, a punição da Enel por debilidades operacionais no abastecimento de energia a 11 milhões de clientes em São Paulo, no Rio e no Ceará.
Pelas contas do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, a empresa tem sido multada em cerca de 100 milhões de reais por ano.
A agência estatal encarregada da fiscalização do setor qualifica como ruins os serviços prestados pela Enel: classifica a empresa na 19ª posição entre 29 distribuidoras — e com isso sugere a existência de outras piores no sistema nacional de energia elétrica.
O histórico da Enel não a recomenda. Deixou Goiás depois de confrontos com o governo estadual, que pedia à agência estatal para cassar-lhe a concessão por má qualidade do serviço — o grupo contestou, argumentando ter reduzido em 69% as interrupções no suprimento de energia no Estado.
Depois de sete anos em Goiás, a italiana Enel vendeu concessão e ativos à espanhola Equatorial. Concluído o negócio, um executivo da empresa compradora foi à Assembleia Legislativa e apresentou uma síntese do “legado Enel” no sistema elétrico goiano: dos 529 transformadores existentes em 237 municípios, 212 estavam “sucateados”, informou o diretor Lener Jayme.
Energia no Brasil é das mais caras do planeta. Os consumidores pagam caro por serviços deficientes, com insegurança crescente, e 40% da conta de luz não se referem a custo de eletricidade, mas fatura política.
Ministério e agência reguladora atravessam anos culpando a Enel, e isso diz mais sobre a própria leniência do que sobre a qualidade dos serviços da empresa na prestação de um serviço essencial e caríssimo. Onde falta governo, sobra confusão, que também é um dos sinônimos de desgoverno.