Diplomacia do espetáculo de Lula rendeu elogio do grupo terrorista Hamas
Como disse ao PT, dias atrás, ele acha que alcançou um estágio de 'transcendência', no qual vê, pensa e fala o que quer, não importa o que outros achem
Um ano atrás, Lula reinaugurou a sua diplomacia de espetáculo com um cerimonial de Estado em homenagem ao representante da cleptocracia venezuelana, o ditador Nicolás Maduro.
No último domingo (18/2), quando voltava da Etiópia, recebeu um elogio público do grupo terrorista Hamas ao espetáculo da sua diplomacia.
Entre esses dois fatos, passou-se um ano de governo e aconteceram coisas assim:
* Lula se voluntariou à construção da paz global. Primeiro, na guerra da Rússia contra a Ucrânia. Depois, na guerra de Israel contra o Hamas. Deu tudo errado.
* Convocou o “Consenso de Brasília”, e apresentou-se à liderança da integração da América do Sul. Não conseguiu apoio dos líderes sul-americanos. E ainda ouviu críticas públicas do liberal uruguaio Luis Lacalle Pou e do socialista chileno Gabriel Boric ao seu flerte permanente com ditaduras da região (Venezuela, Nicarágua e Cuba).
* Precisou do veto do presidente francês Emmanuel Macron para deixar na geladeira o acordo do Mercosul com a União Europeia, que dividia o seu governo.
* Atropelou-se na campanha eleitoral da Argentina. Fez interferências indevidas —até com equipe de propaganda vinculada ao PT — a favor do candidato peronista. Já havia feito coisa parecida no Peru, na Bolívia e na Venezuela nos dois primeiros governos. Dessa vez, deu errado. A oposição antiperonista venceu na Argentina.
* O apoio à cleptocracia venezuelana revelou-se contraproducente. Lula frustrou-se com a ameaça da ditadura de Nicolás Maduro de invadir a Guiana para tomar reservas de petróleo. Resultado: o Brasil agora assiste a uma célere expansão dos interesses dos Estados Unidos na fronteira norte, com a Guiana transformada em “zona militar”.
* Esboçou um salto de qualidade na política externa com a atração da Conferência do Clima das Nações Unidas para Belém, em novembro do próximo ano. São realistas as possibilidades de êxito, até pelo abalo da política ambiental europeia com a ofensiva do agronegócio regional. No entanto, Lula relativiza a chance de sucesso com a própria indecisão sobre abertura da bacia do Amazonas à Petrobras para exploração exploração de petróleo.
Nesse último ano, Lula se voluntariou para salvar a paz, o mundo, a América do Sul, o Mercosul e a Amazônia. Nesta semana, vai comandar a reunião dos países industrializados, o G20.
Dias atrás, ele ampliou a lista de tarefas para incluir o PT, que ajudou a fundar há 44 anos: “Eu quero salvar esse partido”, disse a uma plateia de dirigentes em São Paulo. Não explicou se quer “salvar” o PT dos erros cometidos por ele ou pelos petistas. Como no PT existe o dogma da infalibilidade de Lula, a culpa tende a ser socializada.
Deixou claro, nessa reunião, que alcançou um estágio de “transcendência”, no qual vê, pensa e fala o que quer, não importa o que outros achem: “Não é possível eu ter nascido onde eu nasci, não é possível eu só ter comido pão depois dos sete anos de idade e ser eleito três vezes presidente da República deste país. Alguma coisa transcende a minha competência.”
Acrescentou: “Que me perdoem. Quem tiver raiva de mim pode falar. Eu já tenho 78 anos, já sou presidente pela terceira vez, eu já fiz mais do que eu imaginei que poderia fazer…”
Contou uma história para mostrar como vê, pensa e age: “Eu tinha seis meses de governo, em 2003. Fui convidado pela primeira vez para uma reunião do G7. Do G7 participam os sete país mais ricos do mundo, liderados pelos EUA, pelo Japão, pela Alemanha, pela França, pela Itália. Eu cheguei na cidade francesa de Evian, primeira vez que o Brasil era convidado. E eu, um peão de fábrica, um torneiro mecânico, sabe, sem dedo, e com vocabulário muito pequeno, porque eu acho que meu vocabulário não deve ter três mil palavras.”
“Eu tô lá e eu olho pelo vidro, tá o [então presidente americano George] Bush, tá o [presidente francês Jacques] Chirac, tá Angela Merkel, tá o rei da Arábia Saudita, tá não sei quem”— prosseguiu. “Eu falei: ‘Pô, o que que eu vou fazer aí? Eu não falo inglês, eu não falo espanhol, eu mal falo português…’ E não podia entrar intérprete. Eu falei: ‘O que que eu vou [dizer ao] entrar lá dentro?’. Aí, eu fiquei pensando… Olhei a cara do [primeiro-ministro britânico] Tony Blair, todo bonitão, falando… Eu fiquei pensando: ‘Qual desses ‘cara’ já passou fome? Qual desses cara já ficou desempregado? Qual desses ‘cara’ já teve a casa cheia d’água [numa enchente], 1,5m de água dentro de casa? Qual desses ‘cara’ já ficou um ano e meio desempregado? Qual desses ‘cara’ sabe o que é comer a marmita a semana inteira só com um ovo branco, um ovo gelado?’ Ninguém. ‘Quem é, deles, que já foi pro chão de fábrica?’ Ninguém. Eu falei: ‘Eu fui. Então, eu não quero falar o que eles falam. Eu quero falar o que eu acho que eles têm que aprender, porque eu era a diferença política.'”
Nessa reunião do G7, descobriu a diplomacia do espetáculo. Era “a diferença” política na época e, por isso, encarnava a novidade de aspirante a alguma influência no jogo de poder global.
Duas décadas depois, Lula pode dizer que já garantiu um elogio público do grupo terrorista Hamas ao seu espetáculo de “transcendência” na diplomacia.