Depois de 18 anos no poder, a esquerda boliviana se dividiu e ameaça levar o país a uma guerra civil. Nesta terça-feira (22/10) em que se completaram 90 dias de bloqueio de estradas e avenidas em Bogotá e cidades vizinhas, o governo Luís Arce anunciou a prisão de grupos com armas e explosivos artesanais nas ruas, sob acusação de “atentado contra os serviços públicos”.
A crise tem origem na cisão do Movimento ao Socialismo (MAS), com liderança disputada entre Arce, atual presidente, e seu antecessor, Evo Morales. O choque entre eles já tem consequências visíveis: falta água, comida e combustível em vários distritos da capital e cidades do interior. A economia débil tende a ficar ainda mais combalida nos próximos dias com nova desvalorização da moeda, considerada inevitável.
O conflito começou com a insistência de Moraes em se candidatar à sucessão de Arce na presidência no ano que vem. Morales já foi presidente por três mandatos, e a Constituição estabelece máximo de uma reeleição — ele se elegeu para o terceiro governo a partir de manobras judiciais. Depois, renunciou e atribuiu a crise a uma conspiração “da direita” guiada pelo “ímperialismo”.
A decisão de Arce de impedir a volta de Morales ao poder fraturou o MAS, deixando o país num grave conflito político-institucional. Em consequência, 78% dos bolivianos acreditam em aumentos da inflação e do desemprego ainda neste ano. Ampla maioria (69%) também acha 69% que a crise foi provocada por Morales, como tática para evitar que seja investigado e preso por delitos privados. Entre outros, ele é acusado de corrupção de menores enquanto esteve na presidência.