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Informação e análise

Em meio à crise na Ucrânia, Putin flerta com Bolsonaro, Fernández e Maduro

Para Moscou é estratégico: neste ano, numa rara conjunção astral diplomática, todos os países do Brics votam no Conselho de Segurança da ONU

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2022, 12h43 - Publicado em 30 jan 2022, 08h00

Moscou flerta com governos da América do Sul em meio à crise com os Estados Unidos e a Europa na disputa pela Ucrânia.

Vladimir Putin exercita a ambiguidade num balé diplomático com governantes do Brasil, da Argentina e da Venezuela.

Quinta-feira passada (20),  manteve uma longa conversa telefônica com Nicolás Maduro, ditador da Venezuela.

Caracas é o maior cliente sul-americano do arsenal russo. As compras militares aumentaram cerca de 10% no ano passado, estimulando a retomada da linha aérea entre os dois países.

Maduro apresentou a sua “solidariedade” a Putin no embate com a Europa e os Estados Unidos. Acabou convidado para uma nova visita à Rússia. Dmitri Peskov, portavoz russo, negou que o item “bases militares na Venezuela” tenha constado “especificamente” da conversa.

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Na próxima quinta-feira (3), Moscou recebe Alberto Fernández, presidente da Argentina. Sua agenda com Putin deverá ser “pragmática”, definem diplomatas argentinos.

Ressalvam a necessidade de cautela nas relações com Washington, porque o governo Joe Biden acaba de dar aval a um novo socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI). E esse acordo é fundamental à estabilidade do governo Fernández até às eleições presidenciais de 2023.

Na sequência, quem embarca é Jair Bolsonaro. A viagem está prevista para a segunda quinzena de fevereiro.

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Bolsonaro e Putin têm algumas afinidades, entre elas o apreço pela autocracia — no caso do brasileiro, limitado pelo Supremo Tribunal Federal à recorrente nostalgia de um regime falido e ultrapassado em 1985.

“Ele é um conservador, sim”, disse Bolsonaro na última quinta-feira. “Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente.”

Nem tanto. No dia seguinte, em Washington, repórteres da BBC News ouviram de funcionários do Departamento de Estado o seguinte recado a Bolsonaro: “O Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades.”

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É possível entrever alguma ironia numa cobrança a Bolsonaro para que defenda “princípios democráticos” e proteja “a ordem baseada em regras”, seja numa vista a Moscou ou na rotina de governo em Brasília. Sobretudo quando parte do governo Biden, que ele considera produto de fraude nas urnas — como insinuou ao conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e ao assessor especial de Biden, Juan González, durante audiência no Palácio do Planalto, em agosto.

O balé de Bolsonaro e Putin tem avançado à margem da crise da Ucrânia. Em novembro, o chanceler Carlos França passou pelo Kremlin. Mês passado, o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos, esteve no Ministério da Defesa russo. Recebeu ofertas atraentes.

Para Putin, esse balé diplomático é oportuno. Rússia e Brasil integram o grupo conhecido como Brics, junto com a Índia, a China e a África do Sul.

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Numa rara conjunção astral diplomática, neste ano todos os países do Brics têm assento e voto  no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Não devem constituir uma sólida frente de apoio à Rússia na ONU. Mas, para Putin, pouco importa. Basta que não contrariem os seus interesses estratégicos no Conselho de Segurança  em meio à crise com os EUA e a Europa. Já seria motivo para brinde de vodka em noite gélida no Kremlin.

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