Governador do Rio gastou R$ 500 milhões com 18 mil para se reeleger
Juíza propôs ao TSE cassar mandato do governador, do vice e do presidente da Alerj por manipulação e desvios na eleição de 2022 no Estado do Rio
Não foram atos isolados ou improvisados, foi uma estratégia planejada para influenciar a eleição de 2022 no Estado do Rio, comentou a juíza Isabel Gallotti, do Tribunal Superior Eleitoral.
Naquela temporada, o governo Claudio Castro manteve uma folha de pagamento paralela com cerca de 18 mil nomes de pessoas aparentemente contratadas de forma temporária por uma fundação para estudo de políticas públicas (Ceperj) e pela universidade estadual (Uerj).
Custou caro aos cofres fluminenses: mais de R$ 500 milhões apenas no primeiro semestre de 2022, de acordo com amostra documental anexada ao processo. Registros divulgados na época pelo repórter Rubem Berta já mostravam frequência de saques de valores em espécie, diretamente na boca do caixa, para dificultar o mapeamento da rota do dinheiro.
No relatório sobre o caso, apresentado no TSE nesta terça-feira (4/11), a juíza Gallotti concordou com a essência da análise da procuradoria eleitoral: os mandatos do governador Castro, do vice Thiago Pampolha e do deputado Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, foram obtidos “de forma ilegítima, por meio de abuso de poder político e econômico, o que violou a legitimidade” da eleição estadual. Eles negam tudo.
Ela recomendou a cassação do trio que chefia o governo e o Legislativo fluminenses e propôs que o tribunal determine novas eleições para governador e vice do Estado do Rio, além de um novo cálculo de votos para o cargo de deputado estadual.
Castro era vice-governador em agosto de 2020 quando o governador Wilson Witzel foi afastado em consequência de uma disputa de poder com o então presidente Jair Bolsonaro e seus filhos parlamentares.
Seis governadores anteriores haviam sido afastados — cinco acabaram presos — sob suspeita de corrupção. Witzel foi derrubado por impeachment, mas não foi preso.
O vice assumiu o governo definitivamente e preparou a reeleição num acordo com o grupo parlamentar liderado pelo deputado Bacellar. Em 2022, Castro ganhou (com 58%) no primeiro turno.
O julgamento no TSE foi paralisado porque um dos juízes, Antonio Carlos Ferreira, pediu tempo para analisar o processo. Não há data prevista para retomada do caso.
A política de segurança pública, reconhecida pelo incentivo ao confronto armado, é o traço peculiar do governo Castro. Ela resultou em 182 mortes em três episódios de matanças na cidade do Rio de Janeiro nos últimos quatro anos.
A carnificina da semana passada (130 mortes) deu-lhe inédita popularidade (até 40% de apoio) nas pesquisas eleitorais. Castro planeja se candidatar ao Senado no ano que vem. Se não for cassado e ficar inelegível, como a juíza Gallotti propôs ao TSE.







