Javier Milei acendeu um fósforo num depósito de explosivos. A partir da manhã de hoje vai-se descobrir se a Argentina tem capacidade de evitar a explosão do seu sistema financeiro ou se ele não possui a repercussão que imagina ter no eleitorado.
Candidato favorito nas pesquisas sobre a eleição presidencial, marcada para o domingo dia 22, Milei entrou na reta final da campanha eleitoral com a tática do quanto pior, melhor: sugeriu aos 44 milhões de argentinos que se livrem da moeda nacional (o peso), o mais rápido possível.
“É a moeda que emite o [poder] político argentino, portanto, não pode valer nem excremento” — disse o deputado federal numa entrevista nesta segunda-feira (9/10). “Esse lixo não serve para nada”.
Descontada a deselegância, seria possível identificar laivos de verdade sobre a agonia argentina. Nas últimas cinco décadas, o país teve duas dezenas de presidentes e meia centena de ministros da Economia, perdeu uma guerra, conviveu com dezena e meia de moedas paralelas emitidas por governos estaduais e submergiu numa crise econômica permanente.
Milei, porém, não está nem aí com o passado. Seu objetivo é precipitar o caos na economia antes do primeiro turno eleitoral, em doze dias. Acha que quanto pior, melhor. Por isso, passou manejar o medo coletivo sobre o futuro econômico do país.
É um estranho caso de candidato presidencial que resolveu incitar o eleitorado a uma corrida bancária contra a moeda nacional. Sugere que saquem os pesos das contas bancárias e convertam em dólares ou troquem por bens — de geladeira a imóveis.
É receita fatal para um sistema financeiro fragilizado de um país cujo governo não tem reservas cambiais suficientes sequer para pagar quinze dias de importações quanto mais para para financiar uma corrida por dólares nessa dimensão — estima-se que o estoque de pesos em circulação seja equivalente a 22% do Produto Interno Bruto.
Milei é economista e sabe que os bancos não têm como se sustentar numa situação como a que está tentando provocar. Os resultados seriam a desconfiança no sistema, o fechamento de casas bancária, clientes em receber pesos ou dólares, e a aceleração da desvalorização da moeda nacional, com remarcações de preços numa escalada hiperinflacionária.
Para ele, tudo bem, porque sua proposta eleitoral é a dolarização da economia argentina, mesmo que o país não possua dólares suficientes para essa aventura financeira. “Quanto mais alto o preço do dólar [em relação ao peso argentino], mais fácil é dolarizar”, tem repetido. Nessa equação de Milei, um resultado certo é a multiplicação da pobreza, muito além dos atuais 40% da população argentina.