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Música de protesto embala conflito entre líderes do Uruguai e de Cuba

Lacalle Pou desafiou Díaz-Canel em reunião recitando versos de "Patria y Vida", canção proscrita pelo governo cubano que virou hino pela democracia em Cuba

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 set 2021, 08h00

Reuniões de chefes de Estado são rituais diplomáticos combinados com muita antecedência e sem margem para surpresas. A do fim de semana na Cidade do México foi diferente.

Luis Alberto Lacalle Pou, presidente do Uruguai, expôs a repressão policial e as violações de direitos humanos em Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Desafiou abertamente os líderes de regimes autoritários Miguel Díaz-Canel (Cuba), Daniel Ortega (Nicarágua), e Nicolás Maduro (Venezuela), cuja captura vale prêmio de US$ 15 milhões oferecido pelas procuradorias criminais de Nova York e da Flórida, onde é acusado de narcotráfico.

“Estar aqui não significa ser complacente”, disse Lacalle Pou. “Com devido respeito, quando se vê que em determinados países não há democracia plena; quando não se respeita a separação de Poderes; quando se utiliza o aparato repressor para silenciar os protestos; quando se prendem opositores; e quando não se respeitam os direitos humanos, nós, de maneira tranquila mas firme, devemos dizer que vemos com grave preocupação o que está ocorrendo em Cuba, Nicarágua e Venezuela.”

Provocou alvoroço no salão do Palácio Nacional, onde o presidente mexicano Manuel López Obrador reunira 32 governantes da região — o Brasil não participou, porque saiu da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac) no ano passado. Os presidentes do Paraguai, Mario Abdo, e do Equador, Guillermo Lasso, se animaram e, também, cobraram liberdade e democracia para cubanos, nicaraguenses e venezuelanos.

O uruguaio despertou a ira do cubano Díaz-Canel. Seguiu-se um confronto verbal. O presidente de Cuba retrucou com críticas ao perfil liberal do governo do Uruguai. E mencionou um recente manifesto da oposição em Montevidéu contra as “reformas neoliberais”.

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Lacalle Pou surfou na réplica: “No meu país, por sorte, a oposição pode se reunir e assinar manifestos. No meu país, a oposição tem espaços democráticos para se queixar. Essa é a grande diferença nossa com o regime cubano.”

Arrematou recitando versos de uma canção proscrita pelo governo Díaz-Canel, que se tornou hino nos protestos de junho em Havana:

“Chega de derramamento de sangue
Por querer pensar diferente

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Quem disse que Cuba pertence a você
Se minha Cuba pertence à minha gente.”

A música é uma obra de arte política, subversiva desde o título. “Patria y Vida” é uma contrafação de “Patria o muerte!”, frase dita por Fidel Castro em 1960, depois da vitória revolucionária, e adotada como estandarte pelo governo cubano [clique aqui para assistir ao videoclip dos músicos cubanos Yotuel Romero, Descemer Bueno, Maykel Osorbo, El Funky e o grupo Gente de Zona]

Visivelmente nervoso, o presidente de Cuba se refugiou numa censura pública ao “muy mal gusto musical” de Lacalle Pou.

Lançada há seis meses, “Patria y Vida” deu à oposição cubana aquilo que procurava há seis décadas — um hino de esperança na democracia. A arte continua a ser uma poderosa arma contra ditaduras.

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