No Ceará, máfias agora fazem até ‘licitação’ de internet
Quem aceita pagar até um terço do lucro obtém “permissão” para operar a infraestrutura já instalada em bairros da periferia de Fortaleza

Máfias especializadas no narcotráfico estão avançando no controle da prestação de serviços de internet e água e, também, no comércio de combustíveis e de alimentos na região metropolitana de Fortaleza. É um processo de diversificação de negócios.
Grupos vinculados às principais franquias do crime organizado baseadas em presídios do Rio e de São Paulo passaram a realizar “licitações” para empresas privadas atuarem provedores de internet: quem aceita pagar taxa de até um terço do lucro obtém “permissão” da máfia local para operar, sem concorrência, a rede já instalada em bairros de Fortaleza, Caucaia e Sobral.
A expulsão dos provedores regulares provocou um “apagão” de internet em alguns bairros da periferia da capital cearense, como Pirambu, Sapiranga e Carlito Pamplona, desde a semana do Carnaval, no início do mês. Máfias locais passaram a impedir a manutenção da rede pelas empresas concessionárias regulares para entregá-la a novos operadores associados, que assumem o controle do serviço e cobram taxa extra dos clientes (em torno de 10 reais por aparelho).
O Ceará se destaca na geografia do crime organizado como ponto de saída de embarque para África e Europa de uma parte da cocaína produzida no Peru e Colômbia. A região metropolitana de Fortaleza é das mais afetadas no Nordeste, embora distante da Bahia, líder absoluto nas estatísticas de criminalidade.


A Bahia tem seis entre as dez cidades mais violentas do país (Camaçari, Jequié, Simões Filho, Feira de Santana, Juazeiro e Eunápolis). Também concentra metade da dezena de cidades brasileiras com maior e mais frequente mortandade provocada pela polícia (Jequié, Eunápolis, Simões Filho, Salvador e Luís Eduardo Magalhães). É o que mostra a edição de 2024 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido por uma organização independente a partir de dados governamentais.

O aumento na percepção de insegurança pública tende a ser tema relevante na campanha eleitoral do ano que vem, indicam diferentes pesquisas. No final de fevereiro, por exemplo, a violência era citada como o principal problema do Estado do Rio por 71% dos entrevistados pela Quaest. É uma diferença de 27 pontos em relação à percepção dos eleitores da Bahia, em segundo lugar (com 44%), embora seja o estado com maiores índices de mortes violentas intencionais e, também, recordista em matança policial.