Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise

O eleitor falou

O placar das urnas não deixa espaço para ilusões

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h49 - Publicado em 7 out 2022, 06h00

A participação foi recorde: num domingo de primavera, 123 milhões de pessoas saíram de casa para votar, concentraram nove de cada dez votos em dois candidatos e mandaram Lula e Jair Bolsonaro disputar a grande final no dia 30, outro domingo.

Permanece um mistério por trás desse engajamento político, que é crescente há três décadas: por que ainda não resultou em políticas governamentais eficazes para resgatar metade do eleitorado da longa viagem na montanha-russa da pobreza?

Lula e Bolsonaro têm evitado respostas objetivas. Atravessaram a campanha sem mostrar as cartas de navegação rumo ao futuro, principalmente na economia, caso sejam eleitos. Um limitou-se a acenar com a volta ao passado e outro com mais do mesmo presente. Com a divisão do país cristalizada no primeiro turno, aniquilam-se justificativas para manter escondidas as propostas de governo.

Os dois candidatos já gastaram cerca de 6 milhões de reais em dinheiro público com pesquisas para mapear as expectativas das dezenas de milhões de eleitores cuja renda não ultrapassa 500 reais por mês. A mensagem comum captada nas sondagens foi a de que esperam mais do que a subsistência durante o próximo governo.

Em contraste, tem sido notável a incapacidade de levar ao debate público ideias novas para mudanças na vida dessa maioria (55%) do eleitorado que depende da ajuda do governo para sobreviver. No vácuo, florescem perplexidades.

Continua após a publicidade

A direita liberal-democrata está espantada com a própria incompetência. Não conseguiu construir uma alternativa eleitoral viável a Bolsonaro e ao seu enredo fantasioso de uma sociedade conservadora ordenada pelo cristianismo primitivo e submetida a uma hierarquia social na qual pessoas com renda acima de 2 700 reais pertencem ao clube dos mais ricos da população.

“O placar das urnas não deixa espaço para ilusões”

A esquerda aglutinada no lulismo, refém do histórico de corrupção, mostra-se atordoada com a “surpresa” da competição na hegemonia das ruas. Enfrenta um presidente manipulador do Orçamento e da estrutura burocrática — como alguns antecessores —, mas com talento de palanque comparável ao de Lula na capacidade de arrebatar a massa usando linguagem que ela entende. Pior: no governo, como ele diz, dedica-se a “desfazer” e a “destruir” os modestos ensaios reformistas dos treze anos de governança do PT, que “distribuía o que tinha, mas não redistribuía”, na precisa definição do historiador José Murilo de Carvalho.

Continua após a publicidade

Bolsonaro e Lula são políticos profissionais, mas de índole diferente. Em 1999, por exemplo, o petista foi para casa curtir a derrota no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Nas madrugadas insones, abria a geladeira, via as luzes e não resistia a um breve discurso naquele “palco” iluminado. Já o deputado não gostou de ver rejeitada sua pretensão de indicar um ministro da Defesa: subiu à tribuna da Câmara e, depois do ritual de elogios à ditadura, propôs o fuzilamento do presidente.

Hoje, eles protagonizam o epílogo de um ciclo geracional que rumina mais frustrações do que êxitos nos projetos desenhados para o país. Na campanha, por enquanto, não conseguiram ir além da insinuação velhas receitas para os impasses de um novo mundo assentado na economia “verde” e digital. Prometem, mas não explicam como vão garantir mais comida na mesa das famílias, acesso à saúde e à educação, e salários suficientes para as contas do mês com empregos qualificados.

A afluência recorde às urnas é prova eloquente da resiliência do regime democrático — Bolsonaro foi obrigado a reconhecer os resultados em silenciosa rendição, sem lamúrias ou novas falsidades sobre o sistema de votação que se esforçou para desacreditar nos últimos três anos. O fracasso político está no aumento contínuo das desigualdades e na perenização das fragilidades econômicas.

Continua após a publicidade

Em treze dos 27 estados há mais gente sobrevivendo dos programas sociais do governo do que trabalhadores remunerados no mercado formal. Abriram-se mais novas vagas de faxineiro do que para outros empregos com carteira assinada, segundo a estatística oficial sobre o período de doze meses até maio passado.

Nesse cenário, a legitimidade extraída das urnas será apenas o começo. O novo governo precisará reconquistá-la a cada dia, em negociações com o Congresso, na perspectiva de estabilizar a vida econômica dos eleitores pobres e de classe média. O eleitorado falou, e é prudente escutá-lo. O placar divisionista (48,4% x 43,2%) das urnas não deixa espaço para ilusões.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.