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José Casado

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Informação e análise

O milionário negócio da ‘ressurreição’ na folha do INSS

Existe vida após a morte na Conafer, entidade do trabalhismo rural que em 2024, segundo o governo, fez 1.135 pessoas mortas voltarem à vida na folha do INSS

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 set 2025, 08h00

No final do ano passado, uma entidade sindical foi intimada numa auditoria do governo a apresentar amostragem de cem fichas do seu universo de 620 mil associados, na maioria pessoas idosas e com deficiência que sobrevivem com o salário-mínimo mensal recebido da Previdência Social.

A Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais) faturava 800 milhões por ano com descontos diretos nos pagamentos dos beneficiários do INSS. O governo queria fazer uma checagem na regularidade das cobranças feitas pela entidade. O presidente da Conafer enviou a amostra pedida pela Controladoria-Geral da União.

Nesta segunda-feira (29/9), Carlos Roberto Ferreira Lopes foi interpelado sobre as fichas no plenário da CPMI da Fraude no INSS. A audiência permitiu um vislumbre da anarquia interessada no sistema de Previdência Social.

— O senhor é o presidente da Conafer, e foi o senhor quem mandou para a CGU… — disse o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). — O senhor mandou a ficha da dona Maria Rodrigues. A dona Maria Rodrigues já tinha morrido há cinco anos, mas ela “fez” uma “assinatura”. O Gilberto, o Gilberto, morreu há vinte anos, mas “assinou”. Olha, esse padrão se repetiu mais de 300 vezes…

As fichas deixam pouca margem para dúvidas: existe vida após a morte na Conafer, milionária entidade do trabalhismo rural que declara existência em 2.950 municípios, com 1,2 mil funcionários, e há cinco meses está interditada pela Justiça depois de 71 mil processos de gente que se sentiu roubada, mas está viva.

— É padrão da Conafer ressuscitar mortos para assinatura de “descontos” associativos? — ironizou o deputado-relator.

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— É padrão do INSS ter defunto recebendo benefício? — retrucou o presidente da confederação. É padrão do INSS, é padrão do INSS aceitar desconto de defunto?

—A pergunta é bem objetiva: é padrão Conafer ressuscitar mortos para conseguir “descontos” associativos? Sim ou não?

— Se o morto estiver recebendo benefício, pelo jeito, sim, né?

— Eu quero, eu quero parabenizar, porque a Conafer botou no bolso 800 milhões de aposentados e pensionistas, sendo que 100% do recorte feito pela CGU não tinha autorizações válidas. A pergunta ao depoente: a Conafer, a Conafer repetiu esse padrão centenas de vezes. O senhor tinha conhecimento disso?

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— Eu não… A Conafer desconhece que pessoas em óbito recebam benefício. Por que uma pessoa em óbito está recebendo benefício, senador… deputado?

— O senhor poderia esclarecer, já que isso legalmente não é possível, como isso se repetiu mais de 300 vezes na Conafer, entidade que o senhor preside?

— Tal, tal “abscesso da lógica”, nobre relator, “abscesso da lógica” é haver desconto num cara que está morto. Como é que existe um desconto aceito pelo INSS numa pessoa que já morreu? Como é que essa pessoa está recebendo benefício, relator?

— Olha, em 2021, a Conafer fez o milagre de ressuscitar 87 mortos para “desconto” associativo. Em 2022, o milagre da “ressurreição” caiu para 61. Em 2023, o milagre explodiu, 2.083 “ressuscitados”. Em 2024, 1.135, segundo os dados da CGU. O senhor poderia explicar como isso aconteceu?

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Lopes falou à CPMI por mais de oito horas, mas não explicou o fenômeno da “ressurreição” na Conafer, que criou década e meia atrás e dirige como empresa familiar, a exemplo do que acontece em outras 20 entidades similares que extraíram mais de cinco bilhões de reais do caixa da Previdência Social na última década.

Também não esclareceu a razão de transferências financeiras atípicas — entre outras, a de 100 milhões de reais para um assessor e o recebimento de 60 milhões reais de uma papelaria.

O presidente da Conafer terminou a audiência preso. Por volta da 1h30 desta terça-feira apresentou à Polícia Legislativa um atestado emitido pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), onde se lia:

Carlos Roberto Ferreira Lopes, 46 anos, autodeclarado indígena da etnia tapuia, é residente do território indígena Caramuru-Catarina Paraguassu e está assistido por esta fundação de acordo com a Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que rege o estatuto das comunidades indígenas brasileiras.

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Pau Brasil, Bahia,

14/08/2025.

Conafer e similares são beneficiários de um sistema anárquico de administração pública que mantém, por exemplo, treze milhões e cem mil pessoas mortas no último meio século que ainda sem registro na principal base de dados do governo, o Sistema Nacional de Informações de Registro Civil.

O mapeamento foi feito pelo Tribunal de Contas da União. Tem mais defunto fora do arquivo nacional do que gente viva na população recenseada de São Paulo, a maior a maior cidade do país. Esse número de falecidos marginalizados pela burocracia equivale à soma dos habitantes de cinco capitais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Luís.

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