A Petrobras embarcou numa corrida contra o tempo. A empresa revisou suas projeções no mês passado e avisou o governo: sem novas descobertas relevantes, de valor comercial, o Brasil deixará a posição de exportador e voltará à antiga posição de importador de de petróleo já a partir de 2034.
Significa que em uma década esgota-se o ciclo de exploração e produção de petróleo na camada conhecida como pré-sal. O declínio, já iniciado, é um processo considerado inexorável.
Assim, por volta de 2050 os poços existentes e os ainda em desenvolvimento já não devem produzir mais nada.
Esses dados levaram a Petrobras a mobilizar toda a sua capacidade de lobby dentro do governo, no Congresso, no PT, nos sindicatos e, também, nos governos de Estados amazônicos. Para a empresa, a situação justifica a pressão e o risco de exploração na Amazônia.
Pressiona o Ministério do Meio Ambiente, especialmente o Ibama, para a liberar rapidamente licenças de pesquisa e exploração na faixa litorânea entre o Rio Grande do Norte e o Amapá, identificada nos mapas como Margem Equatorial.
Em 2015, a Petrobras perfurou três poços, ano passado mais dois, mas, por enquanto, só tem possibilidades de descobertas na área do Rio Grande do Norte.
A aposta ao Norte, no litoral do Amapá, a 500 quilômetros da foz do rio Amazonas, ainda se sustenta pela realidade da vizinha Guiana, onde depois de uma década de pesquisas já se produz 650 mil barris de petróleo por dia, com perspectiva de dobrar a produção a partir de 2027.
Há uma dezena de empresas operando na bacia petrolífera da Guiana. A reserva local tem capacidade inicial estimada para produção de até 11 milhões de barris por dia.
A Petrobras acredita que algo similar possa ocorrer do lado brasileiro da Margem Equatorial e, por isso, projeta gastar três bilhões de dólares – o equivalente a 15 bilhões de reais – na abertura de 16 poços. Por enquanto, só fez dois.
Desde 2014, o Ibama recebe pedidos de análise de licenciamento de um poço aberto a 500 quilômetros da foz do Amazonas. Os primeiros foram apresentados pela British Petroleum, Total e QGep. Mas as empresas, aparentemente, desistiram.
Em 2020 a Petrobras assumiu o bloco (nº 59) exploratório, mas o Ibama negou a licença depois de oito revisões sucessivas do Estudo de Impacto Ambiental. Uma das razões básicas foi a reiterada deficiência do projeto de proteção à fauna regional, em caso de acidentes.
O poço fica no mar, 70 quilômetros do Oiapoque, mas está situado a 830 quilômetros da base indicada para socorro. A empresa negocia com o Ibama mudanças no projeto.
A Petrobras tem pressa num jogo de resultados imprevisíveis. Batalha abertamente pelo petróleo que acredita estar disponível à extração no litoral amazônico, porém, discretamente, avança numa alternativa de transição energética: a produção de energia eólica em “fazendas” marítimas. Pediu ao Ibama licenciamento para quase uma centena do tipo.