Um dos reflexos da partidarização nos quartéis nos últimos cincos é a queda na confiança da sociedade nas Forças Armadas.
Em 2018, antes da eleição de Jair Bolsonaro, três em cada dez brasileiros diziam “confiar muito” no Exército, na Marinha e na Aeronáutica. No início deste mês eram apenas dois em cada dez.
Em contrapartida, o grupo dos que declaram “não confiar” nas instituições militares aumentou de forma significativa, e em escala proporcional (de 21% para 31%).
Os dados sugerem uma corrosão progressiva da confiabilidade das Forças Armadas. Esse processo coincide com a percepção coletiva sobre a “militarização” da política na ascensão de Bolsonaro, na eleição de 2018. E ganhou ritmo nas sucessivas crises que ele fomentou na tentativa de ampliar seu poder sobre os comandos e controlar os quartéis.
A desconfiança aumentou (de 20% para 29%) logo no primeiro ano de governo, quando houve uma ocupação de áreas-chave no Palácio do Planalto e nos ministérios por militares das forças especiais, alguns na reserva.
Inflou no início de 2021 (para 33%) no choque de Bolsonaro com a cúpula militar, que resultou na demissão do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e, na sequência, dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Manteve-se até o final do governo e segue no mesmo patamar.
Já não há ruídos nos quartéis. Os comandos renovados, aparentemente, conseguiram dissipar nuvens de desordem que ameaçavam a hierarquia militar.
Uma dezena de oficiais na ativa e na reserva, a maioria das forças especiais, está sob investigação judicial. É provável que a partir do ano que vem o país assista a um inédito desfile de militares graduados no banco dos réus, em julgamentos por crimes contra o regime democrático — e na companhia do ex-presidente.