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José Casado

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Informação e análise

Roubo bilionário deixa Cristina inelegível até à morte

Ela aposta no fracasso econômico do governo Javier Milei. Se acontecer, acredita, será resgatada da prisão para “salvar” a Argentina

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 jun 2025, 03h26 - Publicado em 11 jun 2025, 08h00

Cristina Kirchner, 72 anos, foi a líder a mais importante na política da Argentina nas últimas duas décadas. Agora, está inelegível pelo resto da vida.

A “inabilitação perpétua”, impedimento para ocupar cargos públicos até à morte, é apenas um dos aspectos da sua condenação por roubo ao governo, estimado em 1 bilhão de dólares — equivalentes a 5,6 bilhões de reais.

A sentença foi confirmada nesta terça-feira (10/6) pela Suprema Corte. Na próxima semana, ela deverá se apresentar ao tribunal. Vai saber, então, se poderá cumprir em casa o tempo de seis anos de prisão.

A Justiça bloqueou parte da fortuna que ela construiu com o falecido marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. O valor é insuficiente para indenizar o Estado pela fraude bilionária. Ainda assim, o retrato de Cristina continuará na galeria das pessoas que mais enriqueceram fazendo política na Argentina.

O caso começou em 2003 quando Néstor, marido de Cristina, assumiu o governo. Em segredo, ele criou uma construtora, pôs um amigo no comando, Lázaro Báez, e passou a acumular contratos de obras públicas. Dominou nove em cada dez licitações no reduto eleitoral da família, a província de Santa Cruz.

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Em 2007 rejeitou a reeleição, preferiu apoiar a candidatura presidencial de Cristina. Ela se elegeu e ele administrou o governo até à morte súbita em 2010.  A viúva se reelegeu presidente. Depois foi senadora por Buenos Aires e mais recentemente (2019-2023)  vice-presidente da República. Não há precedente de mulher com igual poder e influência por tanto tempo na história argentina.

Quem melhor definiu o ciclo Kirchner foi a ex-senadora Norma Morandini, em artigo recente: “Uma corrupção protegida pelas trevas e uma tradição política autocrática, que reduz a democracia à maioria eleitoral, confunde o Estado com o governo, usa o dinheiro público como seu e apela, para se perpetuar no poder, a uma justificação cínica: ‘Para fazer política é preciso dinheiro’ [frase do ex-presidente Néstor Kirchner].”

O caso Cristina agora é “coisa julgada”, questão definida em três instâncias e com análises de duas dezenas de juízes. Pela lógica do Judiciário, são praticamente nulas as chances de revisão da condenação da ex-presidente.

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Na política, porém, tudo é diferente. Ontem, enquanto peronistas espalhavam cartazes com fotografias dos juízes e a legenda “corruptos”, a ex-presidente discursou na sacada do seu apartamento para uma multidão. “Um detalhe que a todos escapa”, disse, “é que esta causa [judicial] tem um cronograma eleitoral maravilhoso”.

Embora condenada, ela planeja se candidatar a um cargo regional em Buenos Aires, equivalente ao de deputada estadual. Tem chance real de ser eleita e com grande votação. Assumir o eventual mandato será motivo de outra batalha nos tribunais, porque já está inelegível pelo resto da vida.

Não importa o resultado, seria útil na sua campanha de vitimização, planejada para emoldurá-la como presa política, e não como de fato é: uma política condenada e, em breve, presa.

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A receita foi desenvolvida e aplicada com sucesso por Lula. Ele passou 580 dias na cadeia, mas obteve do Supremo Tribunal Federal a anulação dos processos, a permissão para a se candidatar e venceu Jair Bolsonaro em 2022,

Meses atrás, Lula estabeleceu um paralelo entre seu caso e o de Cristina: “Sabemos bem, aqui no Brasil, o quanto essa prática de perseguição judicial pode causar danos à democracia.”

Ontem, preferiu o silêncio. Deixou o protesto com o Instituto Lula. Em nota, acusou o Judiciário argentino de “sérias violações dos direitos fundamentais e do devido processo legal” e, também,  de ameaçar “o equilíbrio entre os poderes e a própria democracia” no país.

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Cristina aposta no fracasso econômico do governo Javier Milei, algo que, hoje, parece pouco provável. Se acontecer, ela acredita, será resgatada da prisão para “salvar” a Argentina: “Nós somos os únicos que podemos organizar e construir uma alternativa quando isso aí desabar, porque isso não tem final feliz e eles sabem”, disse no comício em Buenos Aires, depois da sentença.

O messianismo faz parte da paisagem do peronismo. Tem sido assim há 80 anos, desde que o coronel Juan Domingo Perón trocou a farda pela política.

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