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Traição

Temporada de decepções e ressentimentos na luta pelo poder

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 ago 2024, 09h31 - Publicado em 9 ago 2024, 06h00

O calendário é implacável: faltam apenas oito semanas para as eleições municipais. É tempo de rupturas, dissidências, infidelidades, deslealdades, falsidades, fingimentos, hipocrisias, imposturas e perfídia — a lista de sinônimos pode ser exaustiva conforme a situação, o personagem e o culto aos dicionários.

Traição, provavelmente, é o traço mais permanente na vida política. Transparece na irônica pincelada de Leonardo da Vinci no afresco da Santa Ceia e na mordacidade de William Shakespeare com Marco Antônio discursando no funeral de Júlio César: “Venho para sepultá-lo, não para elogiá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive-lhes. O bem costuma ser sepultado com os seus ossos. Que seja assim com César…”.

Menos sutil era Manoel Antônio Pereira Borba, ex-prefeito de Goiana, deputado federal e senador, que governou Pernambuco entre 1915 e 1919. Virou ídolo na família do ex-­presidente José Sarney. No livro Galope à Beira-mar, Sarney resgata um conselho do avô Assuéro sobre o método Borba para lidar com traições. Na véspera de uma eleição, o governador enviou telegrama com singela mensagem a todos os prefeitos pernambucanos: “Quem tiver o que perder não vote contra a chapa do governo!”.

Políticos sobrevivem na desconfiança. “Aprendi em Brasília que traições são comuns”, repete a deputada federal Tabata Amaral, do PSB, sobre a frustrada parceria eleitoral com José Luiz Datena, do PSDB, na disputa pela prefeitura de São Paulo. Datena tem atravessado os dias de campanha explicando duas coisas: 1) não traiu a ex-parceira, agora adversária; 2) não pretende trair seu partido abandonando a disputa municipal — como já fez quatro vezes —, mas quer se candidatar ao Senado em 2026.

Temporada eleitoral é primavera de decepções. A luta pelo poder fratura famílias tradicionais na política do sertão do nordestino. Em Massapê, a 250 quilômetros de Fortaleza, os Albuquerques se dividiram. O deputado federal Antônio José destituiu o pai do comando do PP e se aliou ao PT. O patriarca José, deputado estadual, foi parar no palanque da filha Aline, prefeita em busca da reeleição pelo Republicanos. A 800 quilômetros ao sul, em Belo Monte, Alagoas, implode uma antiga aliança dominante na região. Outro clã Albuquerque, também do Republicanos, desfez laços com os Feitosas, do MDB.

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“Temporada de decepções e ressentimentos na luta pelo poder”

No Rio, o governador Cláudio Castro, do PL, sentiu necessidade de fazer uma declaração pública de fidelidade a Jair Bolsonaro. Prometeu-lhe lealdade “até o último dia do mandato”. Os mais céticos, ou cínicos, suspeitam que a garantia de Castro tem prazo de validade: até a meia-noite da quinta-feira 31 de dezembro de 2026.

Em Brasília, Bolsonaro renega acordos. Trocou um fiel aliado do PP em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, por um antigo adversário local, do PSDB. Repetiu-se em Foz do Iguaçu, Paraná, ao trocar a candidatura de Paulo Mac Donald Ghisi (PP) pelo apoio a Joaquim Silva e Luna (PL), que no seu governo foi presidente da Itaipu e da Petrobras. Dois anos atrás, Silva e Luna deixou a Petrobras dizendo-se traído pelo então presidente: “Não vendo minha alma”. Aparentemente, se reconciliaram no palanque. Bolsonaro, no entanto, deixou um rastro de incertezas sobre o futuro da coalizão de direita que o sustentou no governo durante quatro anos.

Lula fez diferente. Atropelou aliados numa série de decisões sobre candidaturas nos maiores colégios eleitorais. O personalismo fomentou rebeldia no Partido dos Trabalhadores e satélites sobre as escolhas em cidades como Maceió, Manaus, Belém, Salvador e Belo Horizonte. Por isso, ele resolveu se resguardar na leveza das colunas de mármore, projetadas como penas pousando no chão, que dissimula o clima de conspiração permanente no Palácio do Planalto. Só deve participar de comícios em São Paulo, onde o PT se divide no apoio à chapa Guilherme Boulos-­Marta Suplicy.

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Temporada eleitoral é estuário de ressentimentos. Ex-prefeito de Campo Grande, Marcos Trad anuncia vingança contra líderes do PSDB. Ele renunciou à prefeitura para se candidatar ao governo estadual em 2022, mas foi interrompido por denúncias de assédio contra sete mulheres. Com o arquivamento do processo na semana passada, Trad planeja uma revanche contra quem acha que “armou” contra a sua aventura eleitoral.

Vai ser assim até o fim da eleição. E depois também, porque todo candidato derrotado acha que o eleitor não passa de um traidor.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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