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Informação e análise

Um estranho aroma de fritura na Esplanada dos Ministérios

A mensagem que Lula tem transmitido, com a ajuda do coral petista, é a de gradual enfraquecimento do ministro da Fazenda

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 fev 2023, 22h35 - Publicado em 27 fev 2023, 09h30

O governo Lula ainda não completou dois meses, mas já tem gente farejando um estranho aroma de fritura na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Na origem estão as sucessivas demonstrações de falta de sintonia entre Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

É ilustrativo o mais recente episódio, a retomada da cobrança de impostos federais sobre combustíveis.

Prevê-se para hoje uma decisão de Lula sobre o repasse de impostos aos bolsos dos consumidores. Eles foram suspensos por Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Lula, ao assumir, manteve a interrupção na cobrança em Medida Provisória cuja validade acaba à meia-noite de hoje.

Manter o congelamento de impostos nos preços ao consumidor significa dar subsídio estatal à queima de gasolina e etanol. pelas contas do próprio governo, isso custa mais de 23 bilhões de reais por ano.

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O Ministério da Fazenda acha inviável para o Tesouro sustentar essa despesa. A Petrobras alega que teria seu caixa drenado, caso tenha que bancar sozinha a diferença.

O impasse é animado pelos portavozes de Lula no PT, que lembram promessas de campanha sobre “abrasileirar”  preços dos combustíveis, protegendo consumidores e sem produzir inflação.

Não existe fórmula mágica, e o governo até agora sequer esboçou um plano consistente. Qualquer decisão terá ônus político, mas sinfonia ruidosa do PT sugere algo mais — uma equidistância cada vez maior entre Lula e Haddad.

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Jogo combinado? Pode até ser. Ainda assim é de alto risco. Isso porque, na melhor das hipóteses, não seria prudente a nenhum governo expor seu ministro da Economia untado numa frigideira em menos de oito semanas de administração.

Não há razão aparente para Lula desejar a fritura pública de Haddad. Tudo indica que ele repete a velha fórmula de estimular o confronto interno, dividindo o governo, para reafirmar sua autoridade em arbitragem pública. Foi assim, por exemplo, no primeiro mandato quando estimulava intrigas entre José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda).

O mundo mudou nesses vinte anos, e ficou muito mais complexo. Querendo ou não, a mensagem que Lula transmite agora, com a ajuda do coral petista, é a de gradual enfraquecimento do ministro da Fazenda em debates governamentais tortos sobre inflação, juros e aumento dos preços dos combustíveis.

Não se faz política sem vítimas, dizia Tancredo Neves. Mas pode custar muito caro.

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