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Informação e análise

Um ministro sob suspeita no Brasil e nos EUA

Ricardo Salles e assessores levaram o governo Bolsonaro ao centro de uma investigação internacional sobre crimes ambientais na Amazônia

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 Maio 2021, 16h18 - Publicado em 20 Maio 2021, 09h20

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, conseguiu a proeza de ser investigado, simultaneamente, no Brasil e nos Estados Unidos. É suspeito de se envolver em negócios de exportações ilícitas de produtos florestais.

Além do inquérito aberto pelo Supremo, Salles também é personagem de outro, conduzido pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem (FWS, na sigla em inglês). Ele nega tudo.

Essa investigação americana está na origem da devassa deflagrada ontem pela Polícia Federal em órgãos ambientais controlados por Salles e 11 assessores, duas associações compostas por 34 madeireiras (Confloresta e Aimex) e, individualmente, três empresas exportadoras (Tradelink, Ebata e Wizi).

O FWS avança no próprio inquérito há pelo menos 16 meses, lastreado no Lacey Act, legislação americana que completou 121 anos em vigor. Por onze décadas ela esteve restrita à repressão do tráfico ilegal de vida selvagem. Foi alterada em 2008 para incluir a proibição do comércio ilícito de plantas e produtos vegetais, como madeira e papel.

O FWS partilha com a Polícia Federal informações e provas coletadas nos Estados Unidos desde janeiro do ano passado, quando confiscou uma carga de madeira da Amazônia de propriedade da Tradelink no porto de Savannah (Georgia), um dos mais movimentados do país.

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Bryan Landry, adido do FWS na Embaixada dos EUA em Brasília, passou quase todo o ano de 2020 explicando à polícia e a assessores de Salles o funcionamento do sistema americano de repressão a crimes ambientais com base na lei Lacey, que não apenas permite o confisco de produtos e navios, como prevê multas e prisão para os envolvidos em delitos. Em algumas dessas reuniões esteve Eduardo Fortunato Bim, presidente do Ibama, investigado no inquérito brasileiro.

O Supremo recebeu cópia da documentação oficial dos EUA repassada à Polícia Federal. Nela estão relatos sobre a série de reuniões de Landry com servidores do Meio Ambiente, no ano passado.

Ele questionava a origem e legalidade da madeira, os certificados emitidos pelo Ibama e rejeitados pelo FWS sob suspeita de fraude, e, também, reiterava a preocupação do governo americano “em relação a possíveis comportamentos inapropriados por funcionários públicos e/ou representantes da [empresa] Tradelink”.

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Landry conseguiu uma testemunha relevante para o processo nos EUA: John Burcshe, presidente de uma subsidiária do grupo Tradelink em Greensboro, na Carolina do Sul. Ele forneceu um panorama das relações da Tradelink no Brasil com a matriz em Londres e sobre as compras de madeira em serrarias da Amazônia.

Burcshe contou, também, que desde a apreensão da carga em Savannah, no início do ano passado, a Tradelink instalou uma pessoa no escritório do Ibama em Belém, “para sentar lá todos os dias e garantir que as remessas [de madeiras ilícitas] fossem liberadas”.

As investigações nos EUA avançam. A Polícia Federal recebeu amostras das madeiras apreendidas em Savannah. Com elas poderá determinar as áreas de onde foram extraídas — via análises de razão de isótopos estáveis.

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Nos papéis que enviou ao Supremo, a polícia registra a inquietação do FWS sobre “possíveis ações inadequadas ou comportamento corrupto por representantes da Tradelink e/ou funcionários públicos responsáveis pelos processos legais e sustentáveis que governam a extração e exportação de produtos de madeira da região amazônica”. E confirma a investigação aberta nos EUA.

Com Salles e seus assessores no Ministério do Meio Ambiente e no Ibama, o governo Jair Bolsonaro passou no centro daquela que poderá vir a ser a maior investigação internacional sobre crimes ambientais na Amazônia.

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