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Letra de Médico

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Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil

A fábula das canetas mágicas

Uma reflexão sobre o uso incorreto dos remédios que revolucionaram o tratamento da obesidade e do diabetes - Ozempic e Mounjaro

Por Clayton Macedo*
22 jul 2025, 08h29

“Era uma vez duas moléculas revolucionárias chamadas semaglutida e tirzepatida”. Elas nasceram nos laboratórios de alta tecnologia e foram aprovadas depois de muita pesquisa científica e publicações nas melhores revistas médicas do mundo. Seus propósitos são nobres: tratar com segurança e eficácia pessoas com obesidade e controlar a glicemia de quem convive com diabetes tipo 2. Ambas brilham nos congressos científicos e nos consultórios, reverenciadas por médicos especialistas que sabem exatamente quando e como usá-la. Elas podem mudar e salvar vidas. Literalmente.

Mas, como tudo que brilha no mundo digitalizado — e filtrado em excesso —, as tais “canetinhas” escaparam da Ciência e invadiram o feed. Saíram da endocrinologia e foram parar em farmácias de manipulação – o que é muito temeroso, clínicas “high tickets” que misturam comércio com enganação, na bolsa da influencer, no consultório do esteticista, no salão de beleza, no story da blogueira fitness que diz “gente, tô usando para secar a barriga e é uma maravilha”.

Elas viraram fetiche. Produto de desejo. Parte de uma estética semelhante a um “doping”. Na farmácia paralela da vaidade, a Ciência virou cosmético.

E, assim, começa um sério e pouco perceptível cenário.

Pessoas saudáveis, de peso normal, iniciam um tratamento que não precisam e não deviam fazer. Perdem gordura, claro. Mas também perdem músculo. As coxas e os braços afinam, o bumbum diminui. O corpo fica mais leve, mas também mais frágil, menos funcional, metabolicamente mais vulnerável. E quando o remédio acaba — toda mágica tem prazo de validade — a gordura volta. Sozinha. Sem o músculo, sem o tônus, sem a proteção. Agora no abdômen e em outras regiões onde não é bem-vinda.

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O corpo tem memória metabólica, e não perdoa atalhos. Sem exercício físico – principalmente musculação, sem ingestão proteica adequada, sem cuidado alimentar, o final dessa história é, na maioria das vezes, previsível: a ciclagem de peso, também erroneamente chamada de efeito rebote, sanfona ou iô-iô. E esse reganho de peso é preferencial de gordura e com menos massa magra.

E não, a culpa não é da canetinha. A culpa é do mau uso. Porque quando usada corretamente — com prescrição médica, indicação clara, acompanhamento de nutricionista e exercícios orientados por um educador físico — ela é extraordinária. Reduz mortalidade, melhora qualidade de vida, previne complicações graves de saúde.

As novas medicações para obesidade e diabetes tipo 2 são fantásticas — para quem realmente precisa. Não existe saúde sem músculo e não existe emagrecimento saudável sem comida de verdade, sem treino, sem sono, sem acompanhamento adequado.

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Não existe mágica. Existe Ciência. E ela não cabe sozinha em um frasco ou em uma canetinha. Também não pode ser vendida em uma clínica de luxo, muito menos consumida como um mero produto de prateleira.

(Esse foi o tema de parte de uma palestra que proferi no Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, promovido pela ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, em Belo Horizonte – MG)

* Clayton Macedo é endocrinologista, coordenador do Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM

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