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‘A Substância’ reacende crítica ao conceito de procedimentos anti-idade

Filme com Demi Moore reforça discussão sobre equivocada premissa do anti-aging - afinal, envelhecer não é sinônimo de doença

Por Beatriz Lassance*
Atualizado em 17 out 2024, 21h15 - Publicado em 17 out 2024, 10h00
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  • Não é de hoje que publicações e marcas de produtos vêm banindo o termo “anti-aging” de seus conteúdos e embalagens. As promessas do conceito de anti-idade, contudo, são insistentes, assim como as críticas a ele. Agora, um filme vem reforçar, de forma tensa, quão problemático é esse termo – e o pensamento que ele suscita. Me refiro à obra em cartaz A Substância, estrelada por Demi Moore: ela nos faz refletir sobre por que algumas pessoas não querem envelhecer ou temem esse processo natural.

    Sempre critiquei o termo anti-aging. Como cirurgiã plástica, minha filosofia no consultório é fazer com que o paciente se sinta bem com ele mesmo. Se me diz que está ficando velho, eu respondo: “Ainda bem! E, se tudo der certo, vai ficar muito mais”.

    É claro que o medo de envelhecer existe. Vivemos um ciclo, como qualquer ser vivo, que um dia vai acabar. As rugas e a mudança contínua e gradual de nossa fisionomia no espelho nos lembram disso todos os dias. Mas o termo anti-aging reitera esse medo como uma expressão cruel.

    Podemos falar que um antibiótico ataca bactérias, o anticoncepcional impede a gravidez, solas antiderrapantes evitam tombos… Mas a premissa do anti-idade é errada! Envelhecer não é doença. É um fato!

    Não é à toa que as técnicas cirúrgicas evoluem cada vez mais buscando o aspecto natural da face. Um paciente bem operado não parece ter feito cirurgia: parece mais descansado, mais feliz… O que importa é agir e interferir a favor de um envelhecimento bonito e saudável.

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    Envelhecer também é bom! Algumas comunidades na Ásia encaram seus idosos com respeito: eles são símbolos de sabedoria e suas rugas, motivo de orgulho.

    No mundo ocidental, como bem demonstrado no filme, a beleza é sinônimo de juventude: as capas de revista e os posts nas redes sociais estampam jovens, rostos sem qualquer sombra de rugas, gente magra, maquiada, que usa e abusa do Photoshop. Essa noção faz com que culote, barriga e rugas tenham de ser tratados a qualquer custo.

    E gera uma frustração contínua, porque, inexoravelmente, o corpo muda. A vida também não é a mesma. Trabalho, filhos, contas a pagar, nada disso existia aos 18 anos. Tudo mudou. A responsabilidade aumentou e a sabedoria também.

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    A ação dos músculos que se contraíram em cada sorriso, ao longo de todos esses anos, obviamente vai marcar a pele e produzir rugas. Ainda bem, pois a melhor e mais eficaz maneira de não ter rugas é não sorrir, não chorar, não se surpreender. Não viver.

    Envelhecer também nos traz memórias, que nos fazem feliz ao olhar para trás, analisar o que já se passou… Tudo isso agrega valor ao que somos hoje.

    É claro que podemos (e devemos) investir em hábitos preventivos, que nos dão uma aparência mais saudável, como usar o protetor solar e se alimentar bem diariamente. Também temos recursos médicos que podem ajudar, como o lifting facial e a cirurgia plástica. Mas o objetivo não é devolver a alguém de 60 anos um rostinho de 30. Isso não funciona!

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    Se tudo der certo, vamos viver mais e melhor. E as preocupações estéticas exageradas darão lugar ao orgulho de ser quem somos.

    * Beatriz Lassance é cirurgiã plástica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica

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