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Aumento global de câncer de próstata requer novos tratamentos e prevenção

Casos como o diagnóstico do Rei Charles III e a morte de O.J. Simpson evidenciam relação com envelhecimento, mas a idade não é a única causa

Por *Marcelo Bendhack
Atualizado em 9 Maio 2024, 14h56 - Publicado em 9 Maio 2024, 09h44

Um estudo recente publicado na revista The Lancet, intitulado Commission on prostate cancer: planning for the surge in cases, revelou uma tendência preocupante: o aumento dos casos de câncer de próstata está ligado ao envelhecimento da população, com uma incidência mais acentuada em países de baixa e média renda.

De acordo com estatísticas apresentadas pela Globocan, o câncer de próstata agora figura como o terceiro tipo mais comum diagnosticado entre os homens em escala global, representando 7,3% de todos os cânceres. E os prognósticos são sombrios: espera-se que os registros de novos casos da doença dobrem, saltando de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões até 2040. No mesmo período, os pesquisadores projetam um aumento alarmante de 85% nas mortes relacionadas ao câncer de próstata, chegando a quase 700 mil casos anuais.

O câncer de pulmão foi o câncer diagnosticado com mais frequência em 2022, responsável por quase 2,5 milhões de novos casos, ou um em cada oito cânceres em todo o mundo (12,4% de todos os cânceres globalmente), seguido pelos cânceres de mama feminina (11,6%), colorretal (9,6%), próstata (7,3%) e estômago (4,9%). Os dados são de 2022 com base em estimativas atualizadas da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) e publicados pela American Cancer Society.

Embora o câncer de pulmão tenha sido o mais diagnosticado em 2022, com quase 2,5 milhões de novos casos, o câncer de próstata continua a representar uma parcela significativa da carga global da doença. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata é o mais prevalente entre os homens, sendo responsável por uma morte a cada 38 minutos.

Envelhecimento não é a única causa

Embora o envelhecimento seja um fator de risco conhecido para o câncer de próstata, não é o único culpado. O estudo destaca que, embora os pacientes mais velhos sejam predominantemente diagnosticados com a doença, homens mais jovens, entre 20 e 49 anos, representam aproximadamente 5% dos casos.

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Casos notáveis, como o diagnóstico do Rei Charles III (75 anos) e a recente morte de O.J. Simpson (76 anos), diagnosticado com a doença em fevereiro deste ano, colocam em evidência a relação entre envelhecimento e câncer de próstata.

No entanto, é crucial entender que a doença não está exclusivamente ligada à idade. Fatores genéticos, epigenéticos, estilo de vida e, principalmente, diagnóstico tardio desempenham papéis significativos nas altas taxas de letalidade.

Detecção Precoce e Prevenção

O diagnóstico tardio do câncer de próstata pode ser atribuído a vários fatores, incluindo o desenvolvimento inicial silencioso e assintomático da doença. Por isso, campanhas educativas contínuas são fundamentais para incentivar exames preventivos regulares, incluindo avaliações da próstata por toque retal e exames como o teste de Antígeno Prostático Específico (PSA).

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Os exames preventivos são recomendados para homens a partir dos 50 anos de idade, ou aos 45 anos para aqueles com histórico familiar da doença ou pertencentes a grupos de risco, como afrodescendentes. É crucial estar atento a sintomas como dificuldade para urinar, fluxo urinário fraco, micção frequente, presença de sangue na urina ou no sêmen, entre outros.

Tratamento e Opções

O tratamento do câncer de próstata depende de vários fatores, incluindo o estágio da doença e a preferência do paciente. Opções como cirurgia, radioterapia e terapia hormonal são comuns, cada uma com seus próprios benefícios e riscos.

Uma opção inovadora, conhecida como Hifu (High Intensity Focused Ultrasound), tem sido adotada em diversos países, oferecendo um método minimamente invasivo para tratar o câncer de próstata de baixo e médio risco. Apesar de sua eficácia comprovada internacionalmente, o Hifu ainda não foi aprovado no Brasil para inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), mas é adotada em diversos centros médicos e clínicas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

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Realizado em diversos países, como França, Estados Unidos, Canadá e Japão, o Hifu é uma das opções minimamente invasivas para o tratamento do câncer de próstata. A técnica surgiu na Alemanha no início dos anos 90 e até hoje já foram tratados mais de 100 mil homens em todo mundo.

O procedimento é usado no tratamento do câncer de próstata localizado, primário (diagnóstico inicial) ou recidivado (após radioterapia, por exemplo), concentrando os feixes de ultrassom em uma região ocupada por células doentes. Há 2 formas principais de aplicação: a próstata completa (total) ou apenas o tumor (parcial ou focal), o que evita que estruturas importantes localizadas ao redor da próstata sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas, o que reduz drasticamente os efeitos colaterais.

Os índices de incontinência urinária são próximos a 0 a 2%, e disfunção erétil em 5 a 7%, quando a aplicação é parcial ou focal. Quando total, o índice deste último é próximo a 25%.

Estilo de Vida Saudável

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Além dos exames regulares, adotar um estilo de vida saudável pode reduzir o risco de desenvolver câncer de próstata e outras doenças. Praticar atividade física regularmente, manter uma alimentação balanceada e evitar hábitos prejudiciais, como fumar e consumir álcool excessivamente, são passos importantes na prevenção do câncer de próstata e na promoção da saúde geral.

Em última análise, a conscientização, a detecção precoce e o acesso a opções de tratamento inovadoras são fundamentais para combater o crescente desafio do câncer de próstata em escala global. Uma vez detectado, existem ferramentas e experiências solidamente adquiridas para tratar bem e com mínimos efeitos colaterais.

*Marcelo Bendhack é médico urologista, uro-oncologista e presidente da Associação Latino-americana de Uro-oncologia (Urola)

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