No último domingo 4, se comemorou o Dia Mundial de Combate ao Câncer. E nessa data que joga luz à doença, é importante abordar um tema que vem preocupando a comunidade médica: o câncer de pulmão em não fumantes (CPINF). Esse problema está sendo visto como uma séria ameaça à saúde global. É o que indica uma revisão publicada em janeiro na Nature Reviews Clinical Oncology, intitulada Câncer de pulmão em pacientes que nunca fumaram — uma doença emergente. Compartilho aqui insights importantes sobre este desafio.
Embora os tumores relacionados ao tabagismo ainda predominem, o CPINF despontou como a quinta principal causa de mortes por câncer em 2023, impactando especialmente mulheres e populações asiáticas. A necessidade de compreender a singularidade do CPINF é evidente, à medida que enfrentamos uma realidade em constante evolução.
O CPINF, frequentemente identificado como um adenocarcinoma de pulmão, revela características genéticas únicas. Essas peculiaridades abrem portas para abordagens terapêuticas personalizadas, sublinhando a importância de desvendar a biologia específica do CPINF.
Descobertas significativas
Ao longo dos anos, estudos têm revelado padrões genéticos singulares no CPINF. Alterações nos genes EGFR, ALK e ROS1, por exemplo, desempenham um papel crucial no desenvolvimento desse tipo de câncer, indicando caminhos para tratamentos mais eficazes e direcionados.
Além da carga genética, destaca-se a relação entre a qualidade do ar e o câncer de pulmão. Ou seja, a poluição atmosférica é vista como um fator ambiental crucial no aumento do risco da doença. A exposição a poluentes como ozônio, material particulado (especialmente PM2.5) e substâncias químicas tóxicas está associada a um maior risco de desenvolver a doença, com classificações oficiais, como as da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), reconhecendo esses elementos como carcinogênicos. Os efeitos adversos à saúde são considerados mais graves em pessoas que fumam e também estão expostas à poluição do ar, tornando essencial a implementação de estratégias globais para melhorar a qualidade do ar como parte integrante da prevenção do câncer de pulmão.
Desafios na detecção precoce
A identificação precoce do CPINF enfrenta desafios significativos, pois a falta de sintomas claros dificulta o diagnóstico nas fases iniciais. A ausência de exames de rastreamento eficazes e a diversidade nas características moleculares do CPINF contribuem para a detecção tardia. Urge a necessidade de repensar as abordagens diagnósticas, priorizando testes genéticos específicos.
Em meio a esses desafios, é necessário compreender e enfrentar os crescentes riscos do CPINF. Essa compreensão não só aprimora a gestão da doença, mas também oferece esperança na luta contra essa ameaça à saúde global. Estratégias inovadoras, tanto preventivas quanto terapêuticas, tornam-se cruciais, abrindo caminho para iniciativas de rastreamento em indivíduos de alto risco.
*Carlos Gil Ferreira é oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas