Em maio deste ano, o governo do Mato Grosso do Sul lançou uma política polêmica. Para combater o bullying, uma série de cirurgias plásticas incluindo correção de orelhas de abano, estrabismo e retiradas da mamas passaram a ser ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. O ponto é o público-alvo, crianças e adolescentes que sofrem com essa discriminação.
A implementação desse programa levantou várias questões, sendo a principal se, de fato, crianças e adolescentes podem se submeter a esse tipo de cirurgia. A discussão parece ter ficado presa nesse ponto, ignorando que existem casos em que há recomendação clínica para algumas correções.
Um exemplo que muitos já conhecem está ligado ao tamanho das mamas. Em alguns casos, jovens apresentam seios volumosos que não condizem com sua estrutura física, trazendo complicações secundárias como excesso de pressão na coluna causado pelo peso.
Certa vez atendi uma paciente de 13 anos que pesava 40 quilos. Ela sofria com o excesso de mamas, que passavam de sua cintura, e impedia que ela usasse roupas normais para sua idade, além de atrapalhar a prática de exercícios físicos. Na cirurgia foi possível reduzir quatro quilos de tecido mamário. Isso trouxe bem mais do que a melhora na aparência. Para além de uma mama mais bonita, a cirurgia impactou na vida dela. Esse é o real benefício de uma cirurgia estética.
Outros casos podem demandar cirurgias reparadoras. Por exemplo, algumas condições como o prognatismo e o retrognatismo. As duas referem-se a alterações no crescimento da mandíbula, que projetam o queixo para frente e para trás, respectivamente. Essas condições têm um efeito estético que é justamente a posição do queixo, mas também pode trazer problemas respiratórios, incluindo apneia.
E o efeito positivo das cirurgias em jovens não inclui somente as cirurgias reparadoras. Uma criança com a chamada “orelha de abano” que sofre com bullying pode ter uma redução no seu rendimento escolar. Embora não traga problemas funcionais, lidar com essa alteração pode colaborar para a melhora da vida da criança.
Conclusão: se a criança ou o adolescente convive com uma alteração física que é passível de melhora e que impactaria na qualidade de vida, a cirurgia é bem indicada.
*Matheus Manica é cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.