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Decifrando os dados: o que ter em mente ao tirar conclusões de um estudo

Polêmica recente envolvendo achados de um artigo sobre contracepção e câncer motiva maior critério e conhecimento ao avaliar e reproduzir notícias de saúde

Por Ilza Monteiro*
15 nov 2024, 10h00
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  • Se antes descobertas científicas ficavam restritas ao mundo acadêmico ou demoravam para se tornarem públicas, hoje essas informações ganham holofotes em tempo real. A questão é que nem toda novidade sobre saúde é de fácil compreensão, podendo levar à má interpretação e a alardes desnecessários.

    Estudos clínicos podem ganhar destaque na mídia, pois acredita-se que tragam a tão desejada ‘notícia’, além de incluírem um número grande de participantes, o que traz confiabilidade. Mas é preciso cautela.

    Além de existirem diferentes metodologias que impactam o resultado, a interpretação depende de variáveis e muitas vezes o que chama a atenção de uma pessoa que não está acostumada com a interpretação desses materiais pode gerar um alarmismo desnecessário na população.

    Antes de tudo, é importante que as pessoas não tirem conclusões ou tomem decisões sem conversar com os profissionais de saúde que as acompanham. E, em segundo lugar, é prudente confiar nas informações que são traduzidas por pessoas que estão acostumadas com aquele tipo de dado e discussão.

    Essa recomendação vale para todo tipo de assunto, mas gostaria de focar na minha área, a saúde da mulher, que ainda vive envolta em tabus, alguns deles alimentados por equívocos interpretativos – o último deles relacionado ao suposto maior risco de câncer entre usuárias de um método de contracepção de longa duração.

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    Sabemos que a desinformação consiste em uma barreira para o planejamento familiar. Cerca de 62% das brasileiras já tiveram alguma gravidez não planejada e, destas, 54% não usavam método contraceptivo, conforme apontado por pesquisa realizada pelo Instituto Ipec a pedido da divisão da multinacional farmacêutica Bayer no ano passado.

    Apesar de o êxito contraceptivo da pílula e do preservativo ser alto quando utilizados de forma adequada, e o DIU hormonal ter se mostrado um dos métodos contraceptivos mais eficazes, com um índice de sucesso de 99,8% e duração de cinco anos, vivemos num país onde o risco de uma gravidez não planejada é significativamente preocupante.

    O DIU hormonal tem revolucionado a contracepção e contribuído de forma positiva para o planejamento familiar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 170 milhões de mulheres no mundo utilizam algum tipo de DIU.

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    Os DIUs hormonais não são a escolha contraceptiva para toda mulher, mas devem ser levados em consideração no processo de escolha, pois são seguros e eficientes e uma opção de tratamento em quadros como o sangramento uterino anormal.

    Temos que correr em busca de conhecimento, mas não podemos acreditar em tudo o que lemos sem um olhar crítico. É fundamental que procuremos um médico de confiança para selecionar métodos contraceptivos que atendam às nossas expectativas. Afinal, a responsabilidade sobre a vida é nossa e de mais ninguém.

    * Ilza Monteiro é ginecologista e presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

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