Embora a epidemia atual da dengue traga uma enorme preocupação para todos e as poucas doses da vacina disponíveis no Sistema Público de Saúde (SUS) estão disponíveis somente para os adolescentes de 10 a 14 anos, por que será que o comparecimento deles nas unidades de saúde de todo país está aquém do que gostaríamos?
Temos algumas explicações para este fato que começa pelas próprias características dessa vacinação. Em função da diminuta quantidade de doses disponíveis, não estamos realizando uma campanha de abrangência nacional – somente pouco mais de 500 municípios receberam doses da vacina, o que dificulta sobremaneira a estratégia de comunicação. Em segundo lugar a idade preconizada, ou seja, o público alvo é muito restrito e as doses ainda vêm chegando de maneira bastante fracionada.
A despeito dessas dificuldades operacionais, vacinar adolescentes nunca foi tarefa fácil, nem aqui nem em nenhum outro país do mundo. Esta é uma idade que habitualmente não freqüenta serviços de saúde, exceto quando estão doentes. Outro aspecto importante a ser considerado é o convencimento do adolescente, que em geral precisa participar do processo de decisão de se vacinar. Não basta, como com a criança pequena, os pais irem até a unidade de vacinação sem nenhum tipo de contestação.
Coincidir as agendas de pais e filhos é outra barreira nem sempre fácil de vencer numa sociedade tão cheia de compromissos e responsabilidades no dia a dia da família. Muitas vezes a falta ao trabalho pode significar perdas importantes no sustento da casa.
Como resolver?
Como então resolver essa questão tão crucial para o sucesso dos programas de vacinação? Dengue, HPV, meningite, hepatite B… Felizmente são várias as vacinas hoje recomendadas e disponibilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) para os adolescentes.
Todos os países que obtiveram sucesso nessa estratégia não ficaram esperando o adolescente na sala de vacina e sim, levaram o imunizante aonde eles se encontram: na escola.
A vacinação de base escolar permite que num único dia, centenas de adolescentes possam ser vacinados, otimizando recursos e atingindo melhores coberturas vacinais. Além disso, é preciso criatividade, o que foi demonstrado na pandemia da Covid-19, com a realização de vacinação em drive-through, baladas da vacina, estádios, shows, estações de trens, metrô e outros locais. Afinal de contas, saúde e educação precisaram andar juntas.
*Renato de Ávila Kfouri é médico infectologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e pediatra, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)