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Doença do sono derrotada: lições de uma bem-sucedida missão na África

Moléstia por trás de uma fadiga terrível transmitida por insetos ganhou novo tratamento graças a uma parceria global entre cientistas, médicos e políticos

Por Luis Pizarro*
17 fev 2025, 08h00

A Guiné alcançou, recentemente, um marco memorável, que serviu para mostrar ao mundo o impacto que a ciência e a cooperação internacional podem ter na vida de milhões de pessoas em condições de vulnerabilidade extrema. O país da África Ocidental anunciou que conseguiu eliminar a doença do sono como um problema de saúde pública e hoje contabiliza menos de 1 caso por cada 10 mil pessoas.

A tripanossomíase humana africana, popularmente conhecida por doença do sono, ganhou esse nome porque provoca uma fadiga grave durante o dia e pode levar a graves perturbações neurológicas e psiquiátricas. Por afetar comunidades rurais remotas, ela também é chamada de doença do “fim do caminho”. Quando não tratada, pode ser fatal.

Há 15 anos, o único tratamento existente para os casos avançados era extremamente doloroso e tóxico. Os pacientes descreviam a experiência como se tivessem “fogo nas veias”. A terapia consistia na administração de um derivado de arsênio que era tão tóxico que matava um em cada vinte doentes. De tão corrosivo, o medicamento era ministrado em seringas de vidro, porque derretia as de plástico.

Essa história começou a mudar há 10 anos quando a organização de pesquisa sem fins lucrativos, Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), em parceria com os Médicos Sem Fronteiras (MSF), desenvolveu e disponibilizou um tratamento novo e eficiente. Chamado NECT, a terapia oferece a cura sem efeitos colaterais graves.

No entanto, apesar do avanço, a terapia ainda guarda o inconveniente de ser complicada para ser administrada em áreas remotas porque tem de ser injetada e requer 14 dias de hospitalização. Essa dinâmica pode ter um impacto drástico na situação financeira de uma família, o que acaba sendo um impeditivo para muitas pessoas infectadas. O membro da família que fica sem trabalhar para acompanhar o doente provoca uma redução substancial do já limitado rendimento familiar.

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Por isso, as pesquisas para encontrar um medicamento ainda mais eficiente não pararam na DNDi e, em 2018, foi lançado o fexinidazol, um comprimido oral seguro e eficaz que pode ser tomado em casa durante 10 dias, sem hospitalização. Alguns doentes, no entanto, continuam necessitando de punção lombar e de tratamento monitorado.

O foco agora é o desenvolvimento do acoziborole, um medicamento revolucionário de dose única. Quando estiver pronto, em 2027, espera-se que o acoziborole – que contou com ensaios clínicos na Guiné – desempenhe um papel fundamental no tratamento rápido em zonas remotas.

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Novo tratamento foi criado por iniciativa voltada ao combate a doenças negligenciadas (Foto: Brent Stirton/Reprodução)
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Tratamentos como o NECT e o fexinidazol foram fundamentais na eliminação da doença na Guiné, mas não são a única razão dessa conquista. Os medicamentos fizeram parte de um plano amplo, orquestrado pelo governo guineense e pelos seus parceiros internacionais. A estratégia de eliminação incluiu intensas ações de rastreamento de áreas endêmicas utilizando testes rápidos, controle das moscas tsé-tsé, os vetores da doença,  além de grandes e bem-sucedidas campanhas de sensibilização, com o envolvimento da comunidade.

A ciência esteve no centro desses esforços. Os pesquisadores do Instituto Nacional de Investigação para o Desenvolvimento Sustentável francês, por exemplo, instalaram armadilhas para a mosca tsé-tsé na cor azul, uma vez que descobriram que é a cor preferida dos insetos.

Apesar dos progressos, a eliminação da doença como problema de saúde pública não é o “fim do caminho” dessa história. Sem um controle rigoroso, a doença do sono pode avançar novamente.

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Não se pode perder de vista os aprendizados da época do surto de ebola na África Ocidental (2013/2016). Por conta da emergência, as medidas de controle da doença foram afrouxadas, provocando um aumento considerável no número de infectados. Agora que a Guiné reduziu consideravelmente os casos – um feito impressionante apenas uma década após o fim da epidemia de ebola-, o país terá que lutar para zerar o número de casos definitivamente.

O caminho é longo, mas há que se lembrar sempre que o que foi feito na Guiné é notável e inspirador, uma mostra de que a união de ciência, vontade política e parceria internacional tem o poder de salvar inúmeras vidas – em qualquer lugar do mundo.

* Luis Pizarro é médico especialista em saúde global e diretor executivo da DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas), uma organização sem fins lucrativos criada em 2003 por Médicos Sem Fronteiras (MSF), Fiocruz, Organização Mundial da Saúde (OMS) e duas outras instituições internacionais de pesquisa

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