É realmente confiável usar IA em tarefas como seleção de espermatozoides?
Apesar de promissor, uso de tecnologia na reprodução humana ainda não é isento de erros e não substitui o olhar humano

Na reprodução humana, a inteligência artificial (IA) já vem sendo usada para ajudar a identificar os embriões mais adequados para procedimentos de Fertilização In Vitro (FIV). E agora temos evidências positivas de seu uso na seleção de espermatozoides viáveis, que, recentemente, culminou na gravidez de um casal que tentava engravidar há 18 anos.
Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Columbia, a tecnologia STAR (Sperm Tracking and Recovery ou rastreamento e recuperação de espermatozoides) utiliza IA de ponta, imagens de alta velocidade e robótica para detectar e capturar até pequenas quantidades de espermatozoides viáveis.
Os resultados são animadores: a tecnologia conseguiu identificar um espermatozoide saudável em uma amostra que havia sido considerada inviável por especialistas, permitindo a realização de uma FIV que resultou em uma gravidez bem-sucedida.
Mas até que ponto o uso de IA para esse tipo de análise é confiável? Apesar de promissora, essa tecnologia de inteligência artificial, assim como qualquer outra utilizada atualmente na reprodução humana, não é isenta de falhas e precisa do olhar humano.
Às vezes, a IA pode detectar incorretamente um espermatozoide saudável. Erros de interpretação do software não são incomuns. Então é fundamental que um profissional esteja atento para avaliar os resultados. Mas a tendência é de que, com mais estudos, esse tipo de tecnologia se torne mais refinada e assertiva. E a tecnologia STAR já é um grande avanço.
Ela consiste na inserção de uma amostra de sêmen em um pequeno chip descartável concebido para mover o fluido através de um canal. Um microscópio ligado a uma câmera de alta velocidade captura milhões de imagens individuais que são analisadas em tempo real pela inteligência artificial a procura de espermatozoides saudáveis, isolando-os em milésimos de segundos. Inclusive, a rapidez é uma das vantagens, pois a seleção ocorre de maneira muito mais ágil do que em técnicas convencionais.
Por exemplo, uma das opções utilizadas hoje em casos menos severos é técnica Swim-Up, que consiste no depósito de sêmen no fundo de um tubo de ensaio com uma solução pela qual os espermatozoides precisam nadar; aqueles que alcançam a superfície são selecionados.
Já quando há alterações espermáticas severas ou quando o casal já tentou múltiplas fertilizações, especialistas altamente treinados precisam usar um microscópio para selecionar os espermatozoides individualmente, o que pode demorar, pois, além de se tratar de uma das menores células do corpo, as amostras geralmente estão cheias de outros detritos.
Então apesar de ainda não ser completamente confiável e precisar ser melhorada, a tecnologia STAR é promissora, principalmente quando utilizada corretamente com a devida supervisão e manuseio por especialistas.
Metade dos casos de infertilidade compreende a infertilidade masculina, seja de forma exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%). E, no geral, a infertilidade em homens está relacionada a problemas como baixa contagem, motilidade ou qualidade dos espermatozoides.
E tudo o que precisamos é de um único espermatozoide saudável graças a métodos inovadores de reprodução assistida, como a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Esse método otimiza o uso dos espermatozoides, pois apenas um é inserido diretamente no interior do óvulo para facilitar a fecundação. Por isso, tecnologias como essa são realmente animadoras.
*Rodrigo Rosa é ginecologista obstetra especialista em reprodução humana, sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana”