Febre amarela: mais uma ameaça causada por mosquitos está de volta
Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer; 91% dos casos de 2024 e 2025 ocorreram em não vacinados.

A febre amarela é uma doença viral aguda, potencialmente grave, transmitida pela picada de mosquitos infectados com o vírus causador da doença, pertencente ao gênero Flavivirus. A doença ocorre principalmente em regiões tropicais da América do Sul e da África, podendo se manifestar de forma leve ou grave.
Nos últimos anos, o Brasil enfrentou surtos significativos de febre amarela. Entre 2016 e 2019, ocorreram epidemias que afetaram diversas regiões do país, incluindo áreas que não registravam casos há décadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, após quase 80 anos sem registros, a doença voltou a ocorrer.
Recentemente, o Ministério da Saúde emitiu um alerta sobre o aumento da transmissão de febre amarela durante o período sazonal da doença, que vai de dezembro a maio, especialmente em São Paulo, além de Minas Gerais, Roraima e Tocantins. Algumas localidades do estado de São Paulo concentram a maior parte dos casos da doença em 2025.
Considerando o período de monitoramento 2024/2025, de julho de 2024 até abril de 2025, foram registrados, no estado de São Paulo, 47 casos humanos, sendo três com local provável de infecção em Minas Gerais. A mediana de idade dos casos foi de 50 anos (intervalo: 18 a 75), sendo a faixa etária mais prevalente de 50 a 59 anos com predomínio no sexo masculino (85%) e 91% dos casos ocorreram em não vacinados.
Um dos principais sinais de que o vírus está circulando numa determinada região é o encontro de primatas (macacos e outros) mortos. Os exames laboratoriais confirmando a morte desses animais por febre amarela, é um aviso (sentinela) de que a doença está por perto e as ações de prevenção precisam ser intensificadas nessa área. Importante! Os macacos não são os vilões, eles são vítimas como nós!
É fundamental a prevenção através da vacinação, a medida mais eficaz na prevenção da doença, que deve ser aplicada em todo o país no esquema de duas doses: aos 9 meses e aos 4 anos de vida. Trata-se de uma vacina segura e altamente eficaz. Para crianças maiores de 5 anos, adolescentes e adultos, uma única dose da vacina é suficiente para a proteção por toda a vida.
Além disso, vale sempre lembrar que é importante adotar as medidas necessárias para evitar a picada de insetos, como o uso de repelentes, telas, roupas que cubram o corpo e, claro, a eliminação de criadouros de mosquitos nas proximidades das residências.
Em relação às gestantes, por se tratar de uma vacina com vírus vivo, ela só pode ser administrada na gravidez em situações de risco, ou seja, para gestantes não vacinadas previamente, que vivem em áreas com casos da doença.
Mulheres que estão amamentando bebês com menos de seis meses não devem ser vacinadas, pois há descrição de passagem do vírus vacinal pelo leite materno, levando à doença na criança. Se a vacinação da lactante for necessária (risco alto na região), o aleitamento materno deverá ser suspenso por um período de dez dias após a imunização.
Os sintomas iniciais da febre amarela incluem: febre súbita, calafrios, dores de cabeça intensas, dores nas costas e no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Em casos graves, após uma breve melhora, a pessoa pode desenvolver novamente febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e olhos), hemorragias e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos, levando à morte.
Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. Assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas, é fundamental buscar ajuda médica imediata. Embora muitos casos sejam assintomáticos ou leves, uma proporção significativa dos infectados pode desenvolver formas graves da doença, que podem levar à morte se não houver atendimento médico adequado. Vamos nos prevenir!
* Renato de Ávila Kfouri é médico pediatra infectologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)