Março Roxo: desde o berço, é preciso pensar na prevenção à epilepsia
Estratégias de cuidado são necessárias para garantir um futuro saudável bebês com risco de lesões neurológicas

O Março Roxo é um chamado para a conscientização sobre a epilepsia, que afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo. A condição pode surgir em qualquer fase da vida. Na infância, fatores genéticos e distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo e paralisia cerebral, estão associados ao seu diagnóstico. Na vida adulta e na terceira idade, AVCs, traumatismos cranianos, tumores e doenças neurodegenerativas estão entre as principais causas. O que muitos não sabem é que, para algumas pessoas, a luta contra a doença começa nos primeiros dias de vida.
O cérebro do recém-nascido é frágil, e complicações como asfixia ao nascimento, prematuridade e infecções neonatais podem deixar sequelas permanentes. No Brasil, 100 mil bebês por ano enfrentam esse risco, muitos sem que suas famílias compreendam a gravidade da situação. Vários deles passam seus primeiros dias conectados a monitores, lutando em silêncio. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para minimizar impactos e garantir melhor qualidade de vida.
Cada bebê carrega um universo de possibilidades, mas para aqueles que enfrentam desafios ao nascer, o futuro pode ser incerto. As condições de risco neonatal compõem o principal componente da mortalidade infantil, e mesmo dentre os sobreviventes, há o risco de desenvolver dificuldades motoras, cognitivas e outros transtornos neurológicos, como a epilepsia. Há estudos e práticas que comprovam como estratégias de neuroproteção e monitoramento cerebral contínuo reduzem o risco de sequelas, mas ainda há deficiências estruturais para garantir essa assistência a todos os recém-nascidos.
Neste contexto, o tempo é crucial. Cerca de 80% das convulsões neonatais não são visíveis, tornando essencial o monitoramento para um tratamento eficaz. Hoje, avanços na saúde digital possibilitam um acompanhamento mais preciso desses casos. O programa da Protecting Brains & Saving Futures (PBSF), presente em 50 hospitais públicos e privados no Brasil, já monitorou e contribuiu para o cuidado de 14 mil bebês, permitindo ajustes rápidos no tratamento e reduzindo o risco de danos irreversíveis.
O Março Roxo reforça a importância da atenção à epilepsia como uma condição neurológica que afeta milhões de pessoas, em diferentes fases da vida. Seu controle e prevenção dependem de diagnóstico precoce, acesso a tratamento adequado e uma rede de suporte que minimize seus impactos ao longo dos anos. Essa é uma estratégia que precisa alcançar todo o país. Investir na saúde neonatal é investir em um futuro sem limites para essas crianças.
*Gabriel Variane é médico neonatologista, fundador da PBSF (Protecting Brains & Saving Futures) e do Instituto Protegendo Cérebros Salvando Futuros, diretor médico da UTI Neonatal Neurológica da Santa Casa de São Paulo, membro do Grupo Executivo do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria e presidente eleito da Newborn Brain Society.