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Letra de Médico

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Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil

Novembro Azul: reflexões sobre a saúde do homem

A prevenção ainda é a melhor forma de evitar doenças, incluindo o câncer de próstata

Por Edson Borges
29 nov 2018, 13h46

E chega novembro, sai o rosa e entra o azul, em campanhas mundiais para mostrar que cuidar da saúde, também é coisa de homem. O novembro azul foi iniciado na Austrália, onde desde 2003, um grupo de pessoas deixa crescer o bigode no mês de novembro para alertar sobre saúde masculina, riscos e prevenções sobre câncer de próstata, denominado Movember, mistura de duas palavras inglesas, mustache (bigode) e november (novembro).

O movimento hoje, com o mundo globalizado e a instantaneidade das informações, nos faz refletir sobre a saúde do homem como um todo e, claro, para um urologista, especialista em reprodução humana, sobre sua fertilidade.

Falar sobre prevenção faz aflorar com força a relação saúde e qualidade de vida. Sabe-se que a qualidade média dos espermatozóides dos homens de todo o mundo vem caindo desde 1930. Nosso grupo avaliou essa queda e demonstrou com evidências pertinentes que há um declínio geral de 32,5% na concentração de espermatozóides em homens europeus nos últimos 50 anos (Human Experimental Toxicology, P Sengupta, E Borges Jr et al., 2018).

Fertilidade masculina

Embora a evidência que liga fatores ambientais ao prejuízo à fertilidade masculina seja fraca, ainda existem alguns dados que sugerem que a qualidade do sêmen pode ser influenciada por fatores ambientais e estilo de vida. Esse achado pode ter implicações no status de fertilidade de homens e enfatiza a necessidade de mais estudos abordando o estilo de vida e outros fatores, a fim de encontrar a correlação adequada com os agentes causadores. 

Há muito tempo encampamos os dez mandamentos da fertilidade, onde apontamos a necessidade do homem se afastar de vilões como cigarro, álcool e stress, para preservar sua capacidade reprodutiva. O cigarro afeta a produção dos espermatozóides, com aumento de taxa de espermatozóides imóveis, anormais e menos concentrados.

Já o álcool altera sua qualidade e função, além de induzir um funcionamento inadequado dos testículos e reduzir os níveis de testosterona (hormônio sexual masculino). O estresse, outro fator que comprovadamente leva ao aumento do número de células inflamatórias que interferem na qualidade dos espermatozoides, causa ansiedade e disfunção erétil.

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Tabagismo e alcoolismo

Em recente publicação no Jornal Andrologia (Paternal lifestyle factors in relation to semen quality and in vitro reproductive outcomes. E Borges Jr et al. Andrologia. 2018;e13090), fizemos um estudo de corte prospectivo que submeteu 965 pacientes do sexo masculino à  análise seminal, entre outubro de 2015 e dezembro de 2016. Apuramos que realmente o tabagismo e o consumo de álcool  parecem reduzir a qualidade do sêmen, fertilização e as taxas de formação de blastocisto (melhor embrião a ser transferido nos tratamentos de fertilização in vitro).

Sensato, portanto, recomendar que o homem submetido a tratamento de reprodução humana busque o equilíbrio, uma alimentação saudável e a sadia qualidade de vida. A finitude da vida e a vulnerabilidade do corpo representam nosso desafio de prolongar a sobrevivência digna, curar doenças e domar a morte.

Fatores genéticos

Neste constante desafio, o departamento de urologia da Universidade  de Stanford, na Califórnia, a partir do pioneiro David Barker, que estuda conceitos de origens fetais de doenças em adultos, sugere a infertilidade masculina como uma janela para a saúde.  Potenciais associações entre infertilidade e saúde podem surgir de fatores genéticos, de desenvolvimento e estilo de vida. Estudos exploraram possíveis ligações entre infertilidade masculina e doenças oncológicas, cardiovasculares, metabólicas e autoimunes. Infertilidade masculina também pode ser um preditor de hospitalização e mortalidade.

É certo que pesquisas adicionais são necessárias para elucidar os mecanismos pelos quais a infertilidade masculina afeta a saúde geral, mas uma coisa é certa, o homem não existe por si só, sua qualidade de vida possui uma conexão direta com tudo o que o rodeia e possa lhe proporcionar um bem estar físico, psíquico, econômico e social.

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Isto vale repensar e despertar para saúde. Hoje, novembro, e sempre.

 

Edson Borges

 

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