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O aleitamento materno não pode ser sabotado

Ainda há condutas inadequadas por parte de hospitais, pessoas próximas à família e profissionais, que acabam impedindo uma amamentação bem-sucedida

Por Mauro Fisberg
Atualizado em 10 ago 2020, 18h46 - Publicado em 10 ago 2020, 14h44

Agosto é considerado como o mês dourado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, por ser o período internacionalmente reconhecido como o de incentivo ao aleitamento materno. Assim, a campanha #agostodourado representa um compromisso de todos os pediatras (e profissionais de saúde), de trabalhar intensamente para o incentivo e a promoção do aleitamento natural. Um direito da mãe e da criança e um dever de apoio da sociedade.

Nos últimos anos, apesar de inúmeras campanhas de educação, de formação e de programas privados e governamentais em prol da massificação do aleitamento materno exclusivo por pelo menos 6 meses, e mantido pelo maior tempo possível, verificamos que as iniciativas não têm resultado em grandes mudanças.

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Se por um lado temos um grande número de crianças que saem da maternidade lactando, ainda observamos condutas inadequadas por parte de hospitais, pessoas próximas a família, e mesmo de profissionais, que acabam impedindo um aleitamento bem-sucedido. Baseados nesta possibilidade, um grande número de sociedades tem se posicionado para que possamos prevenir as chamadas crises previsíveis do aleitamento natural. A falta de conhecimento sobre as mamas, sobre a fisiologia da lactação, sobre a necessidade de desmistificação de tabus e “fake news” sobre o leite materno são ainda presentes em nossa sociedade. Leite fraco, leite insuficiente, leite que não é adequado para o bebê, tudo isto ainda circula de forma errática em nossas redes sociais sobre aleitamento.

A possível orientação sobre a melhor forma de preparar as mamas e a orientação para a alimentação logo após o parto deve ser realizada em conjunto pelo sistema pré-natal, pelo obstetra e com a participação do pediatra. Este poderá realizar juntamente com o obstetra uma revisão da forma do bico do peito, mamilo e especialmente orientar a técnicas corretas para a pega do bebê ao peito, prevenindo o desmame já nas primeiras horas de vida e especialmente por falha na orientação.

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Colocar o bebê para mamar logo após o parto tem uma série de vantagens para a descida do leite materno para os canais de saída da mama, para o conforto da mãe e da criança, para a contração uterina e para a expulsão da placenta. O leite materno tem uma concentração diferente nas primeiras horas de vida e é chamado de colostro, com uma cor diferente do leite maduro, menor volume e maior densidade nutricional, essencial para a imunidade e crescimento nos primeiros dias. Com maior quantidade de lactose, tem a energia suficiente para a recuperação imediata após o parto. No entanto, por perda de líquidos, o bebê chega a perder até 10% do seu peso de nascimento nos primeiros dias, independentemente de uma adequada alimentação. Isto as vezes desespera a mãe ou cuidadores, e inadvertidamente consideram que a mamada não está sendo suficiente. Neste momento, muitas mães acabam duvidando da eficiência do seu próprio leite e podem iniciar o desmame.

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Além disto, o papel de “sabotadores” pode impedir a adequada alimentação ao peito nos primeiros meses de vida. A presença de choro, cólicas, irritabilidade ou cansaço, podem fazer com que outras pessoas do convívio familiar indiquem um suplemento ou um leite diferente, acreditando que a criança está com fome ou com alguma reação ao leite.

A indústria de alimentos, com a produção de inúmeras fórmulas para uso em condições especiais, na ausência do aleitamento natural, também confunde, já que muitas destas fórmulas infantis, ou produtos em pó, são anunciadas como modificadoras de formação de gases, cólicas, choro, irritabilidade e alergias. Alguns destes fenômenos são absolutamente naturais ao bebê nos primeiros meses de vida, e muitos pediatras começam a fazer trocas inicialmente na alimentação materna, visando a possível passagem de algum elemento para o leite que possa causar mais cólicas… Nada provado, desde que não exista uma alergia materna a algum alimento, como por exemplo, o leite de vaca.

Na maioria das vezes, estes processos passam sem qualquer intervenção, desde que as mães estejam bem orientadas e acompanhadas pelo pediatra, que irá observar o crescimento, desenvolvimento, sono, eliminação de urina e fezes, e o aspecto geral do bebê. No entanto, se houver a introdução de fórmulas lácteas sem sentido ou orientação adequada, o desmame será inevitável e muitos dos sintomas poderão continuar independentemente da mudança de fórmulas. Uma das coisas que sempre falamos em nossas aulas, é que se uma mãe estiver amamentando o seu filho, que tem cólicas, choro e alguma irritabilidade, nunca trocaremos a mãe para sanar o sintoma…

O acompanhamento de puericultura, a observação de como a criança mama, a posição da mãe e filho durante a mamada, o olhar sobre o peito, o mamilo, a sucção, são ferramentas essenciais para o pediatra poder garantir a continuidade do aleitamento de forma natural e individualizada. Muitos profissionais têm poltronas de amamentação para poder observar a dupla mãe-filho durante a mamada, para poder corrigir erros de postura, pegada, ritmo e forma.

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Para garantir a mamada por longo período, é essencial que a introdução de alimentos seja realizada de forma individualizada, com cuidado e atenção, após os seis meses de vida. O aleitamento será continuado mesmo com a introdução de alimentos complementares, em horários de refeição ou complementando a refeição principal. Gradativamente se estabelece que a fonte de alimentos primários vai se modificando de láctea exclusiva para mista, com a introdução de outras texturas, sabores, cores e composições. Assim, introduzimos gradativamente alimentos fontes de energia (carboidratos como o arroz, batata, mandioca), proteína (cereais, carnes e verduras), vitaminas e minerais, além de fibras (frutas, verduras, legumes). Mas o essencial é que o aleitamento siga como única fonte láctea e acompanhada de forma contínua.

Os benefícios sobre a cognição, imunidade, crescimento e desenvolvimento, sono e especialmente na prevenção de excesso de peso e de suas consequências são um capital gigantesco que o aleitamento materno prolongado determina. Por coincidência ou não, o mês de setembro é chamado de Laranja, pela Sociedade Brasileira de Pediatria (#setembrolaranja), ou seja, o mês de prevenção da obesidade. Uma garantia para entender que o aleitamento adequado pode ajudar na sequencia na prevenção do excesso de peso. No mês que vem falaremos sobre isto. Até setembro…

Letra de Médico - Mauro Fisberg
(Heitor Feitosa/VEJA.com)
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