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O autoexame é importante no rastreamento do câncer de mama?

O autoexame é importante para manter a mulher atenta às próprias mamas, mas não substitui a participação em um programa de rastreamento completo

Por Sergio Simon
Atualizado em 10 mar 2017, 16h55 - Publicado em 9 mar 2017, 13h01

Um avanço importante na luta contra o câncer de mama tem sido a implementação de programas de rastreamento, que têm por finalidade detectar o câncer de mama na fase mais inicial possível, onde suas chances de cura são maiores. Nos países onde estes programas foram implantados há décadas, como nos países nórdicos, alguns países da Europa, Canadá e Estados Unidos, pesquisadores estimam que a diminuição de mortalidade pelo câncer de mama seja da ordem de 15% a 20%, ou seja, há um impacto importante na sobrevida das mulheres afetadas.

As orientações para rastreamento variam de país para país e de acordo com os diferentes grupos que fazem as recomendações. De uma maneira geral, recomenda-se o rastreamento mamográfico no mínimo a cada 1-2 anos para mulheres entre os 50 e os 74 anos de idade. Outros grupos recomendam mamografia anual a partir já dos 40 anos, sem limite superior de idade, desde que a mulher tenha ainda uma sobrevida esperada de 10 anos (com o aumento da idade média da população isto significa que uma mulher saudável aos 80 anos deve seguir fazendo rastreamento).

Sabe-se que, em termos de saúde pública, a diminuição de mortalidade só irá ser percebida se um mínimo de 70% das mulheres estiverem sendo seguidas em programas de rastreamento. Infelizmente, este não é o caso do Brasil, onde os números, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, estão muito abaixo disso. Mesmo com todo o refinamento técnico atual, a mamografia ainda falha em cerca de 15% dos casos – ou seja, não consegue detectar um tumor presente na mama examinada.

Algumas mulheres, entretanto, pertencem a grupos de maior risco: aquelas que têm forte histórico familiar de câncer de mama e/ou ovário, aquelas que foram tratadas com radioterapia na infância/adolescência (geralmente para linfoma) e aquelas que são portadoras de lesões pré-malignas da mama. Nestes casos, as pacientes devem começar o rastreamento numa idade muito mais precoce (provavelmente ao redor dos 25 anos de idade) e também devem ser submetidas preferencialmente ao exame de ressonância magnética das mamas, uma vez que mulheres jovens frequentemente têm mamas muito densas, diminuindo a acurácia da mamografia.

Nesse contexto, qual a importância do autoexame das mamas? A resposta é que provavelmente o autoexame ajuda a fazer um diagnóstico um pouco mais precoce, mas tem pouco impacto na sobrevida das mulheres. Já o valor do exame clínico existe quando ele é feito por médicos ou enfermeiras treinados especialmente para isso, que gastam de 5-10 minutos de exame em cada mama. Num grande estudo canadense, um grupo de mulheres foi seguido com exame clínico por especialistas e mamografia e um segundo grupo foi seguido somente por exame clínico. Após 25 anos de seguimento, a taxa de mortalidade foi a mesma em ambos os grupos, demonstrando que o exame feito por especialistas tem valor e é recomendado, junto com os exames de imagem.

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Já para o autoexame feito pela própria mulher não existem estudos comprovando queda de mortalidade com esta técnica. Por exemplo, um estudo de 400.000 mulheres acompanhadas com autoexame na Rússia e na China demonstrou que esta técnica não reduziu a mortalidade por câncer de mama e poderia até ter causado dano, pois o método detecta inúmeras alterações benignas da mama, levando a um grande número de biópsias desnecessárias. É claro que a detecção mais precoce de um nódulo mamário é desejável, mas a dificuldade de se fazer um autoexame de mama confiável é grande, o que reduz muito a sensibilidade do teste.

Esta falta de dados comprobatórios do valor do autoexame levou a maioria dos grupos de especialistas que publicam orientações de rastreamento não mencionar a técnica ou a colocar o autoexame como uma modalidade “opcional” de rastreamento, que sempre deve ser acompanhada pelo exame clínico pelo especialista, além dos exames de imagem (mamografia, ultrassom e ressonância magnética em casos selecionados).

O principal valor do autoexame é manter a mulher atenta às próprias mamas, não se esquecendo de participar de um programa de rastreamento completo, que deve aliar imagem e um exame clínico pelo especialista.

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Letra de Médico - Sergio Simon
(Reprodução/VEJA.com)

 

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