O novo problema que o Ozempic poderá tratar – e não tem a ver com peso
Estudo com semaglutida traz descoberta promissora para pessoas que precisam reduzir o consumo de bebida alcoólica

Uma pesquisa recém-publicada no periódico médico JAMA Psychiatry trouxe uma descoberta promissora para quem luta contra o alcoolismo. O estudo investigou os efeitos do Ozempic (nome comercial da semaglutida), um medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes e da obesidade, na redução do consumo de álcool.
O trabalho, realizado com indivíduos com dependência em nível moderado, trouxe resultados significativos, apontando para uma possível nova estratégia terapêutica diante de uma condição que afeta milhões de pessoas e famílias pelo mundo.
O estudo foi desenhado exclusivamente para testar o efeito do Ozempic na dose de 0,5 mg via subcutânea por semana em um centro de saúde nos Estados Unidos. Trata-se de uma pesquisa pequena e de curta duração que incluiu 48 adultos diagnosticados com transtorno do uso de álcool. Durante nove semanas, os participantes receberam injeções semanais de Ozempic ou placebo (injeções sem princípio ativo).
Os principais achados da pesquisa foram:
– Redução no consumo de álcool: os participantes tratados com semaglutida consumiram expressivamente menos álcool de acordo com os exames laboratoriais.
– Menos desejo de beber: houve uma queda nos níveis de fissura por álcool em comparação ao grupo placebo.
– Menos episódios de bebedeira: a quantidade de bebidas ingeridas por dia também foi menor no grupo que recebeu a medicação.
– Possível efeito sobre o tabagismo: houve indícios de redução no consumo de cigarros entre os participantes que fumavam.
Os cientistas acreditam que a semaglutida pode influenciar o sistema de recompensa do cérebro, reduzindo o prazer associado ao consumo de álcool. Isso ajudaria as pessoas a diminuírem a ingestão mesmo sem estarem ativamente tentando parar de beber.
Embora os resultados sejam animadores, os pesquisadores ressaltam que são necessários estudos maiores e de longa duração para confirmar os efeitos da semaglutida no tratamento do alcoolismo. Se comprovada sua eficácia, esse medicamento pode representar um grande avanço na abordagem da dependência alcoólica, para a qual existem poucas opções de tratamento farmacológico.
Para quem enfrenta o alcoolismo, essa pode ser uma esperança no horizonte – lembrando que o medicamento ainda não está aprovado para essa finalidade.
Conversar com um profissional de saúde é sempre o primeiro passo para buscar ajuda e entender quais opções de tratamento estão disponíveis. E, quem sabe, em breve, a semaglutida seja uma delas.
* Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e coordenador médico do Endodebate