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O quebra-cabeça de um câncer raro e agressivo

Especialista discute os desafios de diagnóstico e tratamento de uma doença pouco conhecida, o linfoma de células do manto, no Brasil

Por Adriana Scheliga*
14 abr 2025, 10h00

O linfoma de células do manto (LCM) é um câncer raro e agressivo que afeta um grupo específico de células do sistema imunológico. Seus sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso e aumento dos gânglios linfáticos, frequentemente mimetizam condições benignas, levando a atrasos no diagnóstico, um problema crucial, considerando a agressividade da doença.

No Brasil, o acesso a diagnósticos e tratamentos para cânceres raros, como o LCM, enfrenta gargalos significativos. A jornada do paciente muitas vezes é marcada por peregrinações por diversos especialistas, exames inconclusivos e tratamentos inadequados para outras condições, antes da suspeita e confirmação. Essa demora impacta diretamente o prognóstico e as chances de sucesso terapêutico.

O diagnóstico, um verdadeiro quebra-cabeça, envolve biópsias, exames de imagem e análises moleculares complexas, muitas vezes inacessíveis a pacientes distantes de grandes centros ou dependentes do sistema público. A centralização dos recursos diagnósticos nas grandes cidades cria uma barreira geográfica para muitos pacientes, que precisam se deslocar por longas distâncias, arcando com custos de transporte e hospedagem, além do afastamento de suas atividades profissionais e familiares.

Histórias de pacientes, que sofrem por meses até receber o diagnóstico de LCM avançado, são comuns e ilustram a realidade de muitos brasileiros com a doença.

Além do diagnóstico, o acesso ao tratamento adequado também apresenta obstáculos. As peças desse quebra-cabeça, embora estejam lá, parecem não se encaixar da forma necessária para ajudar os pacientes.

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As terapias inovadoras, como os inibidores de tirosina quinase de Bruton (iBTKs) e as terapias CAR-T, embora revolucionárias, são de difícil acesso. Os iBTKs, como o ibrutinibe, acalabrutinibe, zanubrutinibe e o mais recente pirtobrutinibe, atuam bloqueando a proteína BTK, essencial para a proliferação das células cancerosas no LCM.

Essas drogas têm demonstrado alta eficácia no controle da doença, especialmente em casos recidivados ou refratários à quimioterapia convencional, oferecendo uma nova perspectiva para pacientes que antes tinham poucas opções terapêuticas.

No entanto, tais medicamentos ainda são inacessíveis para a maioria dos brasileiros hoje e a incorporação dessas terapias nos sistemas público e privado de saúde é lenta e complexa, deixando muitos pacientes sem a chance de receber um tratamento que poderia prolongar e melhorar sua vida.

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Apesar dos desafios, a pesquisa científica avança a passos largos. Estudos robustos trazem esperança com novas combinações terapêuticas e abordagens inovadoras, que prometem maior eficácia e menos efeitos colaterais, inclusive explorando o potencial dos iBTKs em diferentes estágios da doença.

Contudo, a inovação só terá impacto real se for acessível a quem precisa dela. Em outras palavras, o quebra-cabeça precisa de todas as peças para que o paciente seja tratado da melhor forma. E é fundamental para isso a participação da sociedade nas consultas públicas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que contribuem com o debate pela incorporação desses novos tratamentos na rede privada.

A democratização do acesso à saúde é um direito de todos. A luta contra o linfoma de células do manto exige avanços científicos e políticas públicas que garantam que os progressos médicos cheguem a quem precisa.

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* Adriana Scheliga é hematologista e oncologista clínica, pesquisadora e médica do Grupo Oncoclínicas, no Rio de Janeiro

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