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O Setembro Amarelo não tem fim! Precisamos prevenir o suicídio o ano todo

Condição é a quarta maior causa de morte entre adultos jovens. Sensibilização da sociedade e políticas públicas são vitais para contê-la

Por Alexandre Valverde*
Atualizado em 13 Maio 2024, 20h53 - Publicado em 28 set 2023, 14h00
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  • O mês de setembro foi marcado por manifestações nas redes sociais, na mídia e nas rodas de conversa sobre a importância de lidarmos com uma importante questão de saúde pública, o suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar da tendência de queda nos últimos anos, ele representa a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos, ceifando mais vidas que malária, HIV, câncer de mama e mesmo homicídios.

    Se precisamos falar sobre suicídio é justamente porque a educação e a desconstrução do estigma em torno do assunto são estratégias primordiais para podermos alcançar a redução almejada pela OMS, que é a de chegar a pelo menos um terço dos casos até 2030 – no horizonte inicial, a meta era buscada até 2020, mas foi estendida devido à pandemia de Covid-19.

    É por isso que o mote da campanha Setembro Amarelo não pode se restringir a este mês. No mundo, 700 mil pessoas retiram a própria vida todo ano. Isso significa uma a cada cem mortes. Uma morte evitável, uma vida em sofrimento.

    Cada perda é muito… Toda a sociedade deve se movimentar nesse sentido, mas os serviços de saúde e os governos com suas políticas públicas são atores principais. Ainda é comum vermos pessoas atendidas em serviços de urgência serem liberadas de alta após saírem da fase de risco sem uma avaliação psiquiátrica. E é importante ter em mente que a ideação e o comportamento suicidas estão ligados a problemas de ordem psiquiátrica em mais de 90% dos casos.

    Muito do estigma em torno do suicídio tem a ver com esse comportamento ser considerado uma fraqueza moral, muitas vezes punido em círculos religiosos, o que dificulta a comunicação desse sofrimento pela pessoa à sua rede de proteção e afeto.

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    Limitar o acesso aos meios de suicídio, como pesticidas altamente perigosos e armas de fogo, é uma das primeiras ações preconizadas pela OMS. Tentativas realizadas por esses meios são dificilmente reversíveis.

    No Brasil, vemos uma triste linha desenhada sobre o nosso mapa em que coincidem as novas fronteiras agrícolas com as maiores taxas de suicídio. A violência no campo, o avanço sobre as terras dos povos nativos, os estupros, abuso de substâncias e a desesperança econômica se somam, criando esse cenário.

    O acesso às armas de fogo, estimulado nos últimos anos, piorou tanto o comportamento suicida como homicida. Diga-se também feminicida, transfóbico e contra populações minorizadas. Em pesquisa realizada em São Paulo e no Rio Grande do Sul, 67% de pessoas trans entrevistadas disseram ter apresentado ideação suicida e 43% já haviam tentado suicídio.

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    Pessoas do espectro autista, por sua vez, têm quatro vezes mais chances de tentar suicídio e oito vezes mais chances de morrer em função disso do que uma pessoa normotípica. O desconhecimento da própria condição, a rejeição social e os transtornos depressivos, mais prevalentes nessa população, pioram o quadro.

    Nesse sentido, é muito importante a identificação precoce, a avaliação, gestão e acompanhamento profissional de qualquer pessoa afetada por comportamentos suicidas, levando ainda em consideração essas outras condições, biológicas ou biográficas, que possam influenciar na sua manifestação.

    Também é preciso promover o debate e a educação necessárias para que adolescentes e jovens consigam desenvolver habilidades sócio-emocionais para lidar com os desafios de suas próprias vidas.

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    O suicídio, sendo comportamento humano, sempre poderá se manifestar. No entanto, como sociedade, podemos e devemos reduzir sua incidência. Os esforços devem ser consistentes, promovidos por ações de políticas públicas, mas também realizados por cada um de nós, reduzindo estigmas e ampliando a discussão, cada vez mais necessária, sobre saúde mental em nossas vidas.

    * Alexandre Valverde é psiquiatra, mestre em filosofia contemporânea, autor do livro Ruptura, Solidão e Desordem (FAP-Unifesp) e apresentador do podcast Fractais, sobre temas da neurodivergência

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