Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Letra de Médico

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil

Opioides: medicamentos são amigos ou inimigos da dor crônica?

Envolvidos em polêmicas recentes, remédios potentes para a dor deixam de ser receitados no país por tabus e desconhecimento de médicos e pacientes

Por Marcelo Valadares*
Atualizado em 23 ago 2024, 10h03 - Publicado em 23 ago 2024, 09h59

Repleto de ressalvas e controvérsias, o uso dos opioides está aquém de seu potencial para o tratamento das dores crônicas no Brasil. Essa classe de analgésicos potentes ganhou evidência com notícias do uso indiscriminado e incorreto, especialmente nos Estados Unidos, mas, quando bem indicada, é uma ferramenta médica importante no manejo da dor. A prescrição adequada pode fazer com que pacientes que convivem com dores incapacitantes há décadas voltem a sentir o impulso de viver.

Embora as vendas de opioides tenham aumentado quase seis vezes no Brasil entre 2009 e 2015, segundo um estudo publicado no American Journal of Public Health, esse tratamento ainda é pouco usado por aqui quando comparado a outros países.

Um estudo divulgado em 2022 no The Lancet, uma das principais revistas científicas do mundo, mostrou que o consumo médio de opioides por indivíduo é maior em países com alto nível de desenvolvimento humano, como Canadá, Suíça e Alemanha. O consumo do brasileiro é equivalente a um décimo das nações desenvolvidas.

Isso quer dizer que a prática clínica não privilegia a prescrição dessas substâncias, e é preciso identificar as razões para essa barreira. Se por um lado existe uma questão de segurança pública, trazida principalmente a partir das ondas de epidemia dos opioides dos Estados Unidos e que já impactam o Brasil, e o risco de dependência e da tolerância ao medicamento, por outro temos uma falta de preparo na abordagem dos médicos para tratamento da dor, pouco empenho dos profissionais para conhecer os mecanismos desses medicamentos e informações limitadas à disposição dos pacientes.

Tratamentos com opiodes não são indicados para qualquer paciente, nem mesmo entre aqueles com dores crônicas. O tratamento seguro da dor é multidisciplinar, que incorpora terapias não medicamentosas, como fisioterapia, psicoterapia, acupuntura e técnicas de relaxamento, com o monitoramento constante dos pacientes a fim de levar a resultados positivos e reduzir a necessidade de analgésicos mais potentes e doses elevadas dos fármacos. Quanto mais estratégias para o manejo da dor, melhor.

Continua após a publicidade

A preocupação em relação à dependência e ao abuso é real, mas não deve limitar a prescrição dos medicamentos e o acesso dos pacientes que realmente necessitam dessa droga para o controle eficaz da dor. Antes de recorrer a essa alternativa, um paciente que sofre com dor crônica, fibromialgia, anemia falciforme ou até mesmo a dor oncológica, por exemplo, experimentou inúmeras outras medicações e não teve uma resposta satisfatória. Nesse contexto, ao proporcionar alívio, os opioides permitem que os pacientes desfrutem de uma melhor funcionalidade e qualidade de vida.

Atualmente, existem também outros tipos de tratamentos avançados na medicina que já estão disponíveis no Brasil, como a cirurgia de neuroestimulação, que envolve a implantação de dispositivos que enviam impulsos elétricos ao sistema nervoso para reduzir a percepção da dor. Se bem indicado, esse tipo de procedimento pode devolver a qualidade de vida ao paciente.

Para vencer a subutilização dessas substâncias para o tratamento da dor crônica, há de se quebrar, ainda, mais um tabu, instalado entre os pacientes. A ideia do brasileiro resiliente e lutador está enraizada em nossa cultura – o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e o filme Central do Brasil, de Walter Salles, exploram essa característica. Nesse sentido, apresentar sinais de vulnerabilidade leva à estigmatização.

Continua após a publicidade

Tal constituição gera relutância em procurar assistência à saúde e a aceitar o uso de medicamentos ou tratamentos capazes de controlar a dor. Afinal, ninguém quer ser lembrado como “fraco” ou “doente”.

Ao longo da história da medicina, ainda é recente a ideia de que toda dor deve ser mitigada, e que o socorro ao paciente com dores crônicas pode ter origem em uma planta conhecida há mais de 5 mil anos. Os opioides estão em evidência e precisamos assegurar que eles sejam integrados, com responsabilidade e ciência, aos cuidados necessários a uma vida digna e livre de sofrimento.

* Marcelo Valadares é neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.