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Radiação no cinema: um olhar médico sobre histórias que viraram filmes

Ao contrário do papel de vilã em produções como ‘Oppenheimer’, vencedor do Oscar de 2024, a radiação é essencial para o campo da saúde

Por Gustavo Nader Marta*
1 mar 2025, 08h00

Em tempos de expectativa e torcida por Ainda Estou Aqui e pela atriz Fernanda Torres na cerimônia do Oscar, recordo da produção que recebeu a estatueta de melhor filme na edição de 2024, Oppenheimer. A cinebiografia do físico estadunidense J. Robert Oppenheimer (interpretado pelo ator Cillian Murphy) mostra o quanto a ciência, essencial para o avanço da humanidade, pode ser perigosa quando o conhecimento está sob o domínio de pessoas e instituições com um olhar bélico.

Em 6 de agosto de 1945, 10 mil metros de altura, 72 quilos de urânio 235 e 43 segundos depois, o mundo emudeceu com a explosão que atingiu um raio de 2 quilômetros e matou mais de 200 mil japoneses em Hiroshima e Nagasaki.

Assim como o contexto histórico contado em Oppenheimer, o mundo vivenciou outros tristes momentos, como o desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia e o acidente de Goiânia com o césio-137. Fatos que estigmatizam tudo o que envolve radiação.

Dito isso, conto que estou aqui para falar sobre saúde. Mais precisamente, sobre radiação médica. A física-química polonesa Marie Curie revolucionou os raios-x a partir da Primeira Guerra Mundial, expandiu o diagnóstico por imagem e, com a descoberta do elemento rádio, abriu caminho para a radiação ser capaz de destruir tumores.

Marie Curie, porém, viu sua jornada como cientista interferir em sua saúde. Em 1934, aos 66 anos, morreu de leucemia, devido a anemia aplásica, uma condição rara e grave em que a medula óssea deixa de produzir células.

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O filme Radioactive (2019), protagonizado por Rosamund Pike no papel de Marie Curie, retrata a trajetória de uma das cientistas mais notáveis da história. Marie Curie foi a única pessoa a receber dois Prêmios Nobel em áreas científicas distintas: o Nobel de Física, em 1903, pelo trabalho pioneiro na descoberta da radioatividade e o Nobel de Química, em 1911, pela descoberta dos elementos rádio e polônio.

Seu legado transformou a ciência, mas um dos impactos mais duradouros de suas descobertas só se tornou plenamente evidente anos após sua morte: a revolução que a radioatividade proporcionou na medicina, especialmente no tratamento do câncer por meio da radioterapia.

O que começou no início do século XX como um uso experimental da radiação evoluiu para uma das modalidades terapêuticas mais eficazes contra o câncer. Hoje, cerca de 60% a 65% dos pacientes oncológicos se beneficiam da radioterapia em alguma fase do tratamento.

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Avanços tecnológicos significativos, como a radioterapia de intensidade modulada (IMRT) e a radioterapia guiada por imagem (IGRT), permitiram um salto na precisão do tratamento, otimizando a entrega da dose de radiação no tumor e reduzindo os danos aos tecidos saudáveis ao redor.

No Brasil, a IMRT tem cobertura obrigatória pelos planos de saúde para tumores de cabeça e pescoço, cérebro, tórax e próstata. No entanto, no Sistema Único de Saúde (SUS), a sustentabilidade econômica da radioterapia é um desafio crítico.

Embora as técnicas mais avançadas possam ser oferecidas em alguns locais, o modelo de reembolso atual não diferencia a complexidade dos tratamentos, o que desincentiva a modernização dos serviços.

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Na prática, os centros que operam com equipamentos de última geração recebem o mesmo valor daqueles que utilizam métodos mais rudimentares, tornando inviável economicamente a adoção de tecnologias mais precisas e seguras.

Além disso, a defasagem dos repasses financeiros compromete a capacidade dos serviços de manter infraestrutura adequada, realizar manutenções nos equipamentos e garantir a capacitação contínua das equipes.

Sem uma reformulação no modelo de financiamento, o acesso à radioterapia avançada no SUS permanecerá limitado, impactando diretamente a qualidade do tratamento oferecido aos pacientes.

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O papel positivo da radioterapia na oncologia deve ser mais amplamente reconhecido. Muitas vezes, a sociedade associa a radiação apenas a desastres nucleares, armamentos bélicos e acidentes radioativos, deixando em segundo plano seu imenso potencial terapêutico.

Quando esse paradigma for superado e a radioterapia for amplamente compreendida como uma ferramenta de precisão e segurança no tratamento do câncer, poderemos alcançar maiores taxas de cura e proporcionar a mais pacientes a chance de escrever novas páginas em suas histórias.

No entanto, para que isso ocorra de forma equitativa, é essencial que a sustentabilidade econômica da radioterapia no SUS seja garantida, permitindo que inovações tecnológicas sejam incorporadas sem comprometer a viabilidade dos serviços.

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* Gustavo Nader Marta é médico e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), além de titular do Serviço de Radioterapia do Hospital Sírio-Libanês (SP)

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