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Resíduos plásticos no corpo humano podem afetar o coração

Presença de micro e nanoplásticos no organismo, ligada à ingestão de alimentos contaminados, requer investigações e novos cuidados

Por Maria Cristina Izar e Ricardo Pavanello*
18 jul 2025, 08h00

Com o aprofundamento de pesquisas, fica cada vez mais claro o prejuízo que a má gestão de resíduos poluentes acarreta à saúde. E não se trata apenas da poluição do ar ou de água contaminada. Mas sobre a comprovação da presença de partículas de plástico no corpo humano.

A justificativa mais plausível é que o descarte incorreto de plástico não biodegradável – que chega aos rios e mares – é ingerido por algumas espécies de peixes. Portanto, junto com a carne saudável do pescado estamos consumindo um “tempero” para lá de indesejável.

Um artigo publicado pela revista científica Nature Medicine traz evidências sobre microplásticos e nanoplásticos — pedaços de até um nanômetro de diâmetro — em vários tecidos humanos, como pulmões, placenta e placas nas artérias. Estas placas são ricas em lipídios, responsáveis pelo estreitamento das artérias e que prejudicam o fluxo normal de sangue.

Uma série de consequências graves advém desse fenômeno: aterosclerose, angina, infarto, AVC e aneurisma. Em outras palavras, essas microscópicas partículas estariam “contribuindo” para prejudicar o sistema cardiovascular.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema, o estudo que originou o artigo – baseado em autópsias – comprovou a existência de cerca de quatro mil microgramas de plástico por grama de tecido cerebral. Uma vez que o córtex frontal do cérebro (onde as amostras foram coletadas) pesa cerca de 500 gramas e a quantidade de plástico encontrada foi de dois gramas, havia o equivalente a um saco plástico de sanduíche dentro do cérebro.

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Os pesquisadores também conseguiram identificar que o plástico era o polietileno, o mais comum e que não se degrada. Ele está em garrafas de água, filmes plásticos e recipientes de armazenamento de comidas congeladas.

Outro achado interessante é que entre os corpos estudados, o subgrupo que apresentava demência no momento da morte tinha maiores níveis de plástico no cérebro. Já entre homens e mulheres não houve diferença da quantidade da substância. Porém, aqueles que morreram mais recentemente acumulavam mais plástico do que os falecidos há mais tempo: uma progressão evidente de 2016 para 2024.

Aumento da produção mundial

Desde 1950 foram fabricadas cerca de 8,3 bilhões de toneladas de plástico no mundo sendo que, deste total, somente 9% foram reciclados e 12% incinerados. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a produção global de plásticos duplicou entre 2000 e 2019, atingindo 460 milhões de toneladas por ano.

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Mas esse aumento brutal não vem acompanhado de soluções eficientes para o refugo responsável. O resultado – estima-se – é entre 1,1 milhão e 8,8 milhões de toneladas de resíduos plásticos despejados nos oceanos anualmente.

Conscientização e prevenção

O médico e pesquisador mericano Perry Wilson, especialista em nefrologia e epidemiologia de doenças crônicas, fez uma análise das ações práticas e preventivas diante dessa “invasão plástica” em nosso organismo. Uma delas é sobre a maneira de se beber água. Um estudo da Environmental Science & Technology, revista científica publicada desde 1967 pela American Chemical Society e que abrange a investigação em ciência, tecnologia e política ambiental, mostra que quem bebe água em garrafas plásticas costumeiramente ingere 90 mil partículas extras de microplásticos por ano.

Em compensação, quem consome água da torneira traga “apenas” 4 mil. Neste caso, optar por beber em uma garrafa de vidro ou de metal reutilizável é uma saída possível.

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Aquecer a comida em suas próprias embalagens é outra maneira de levar plástico para dentro do corpo. Transferir o alimento para um prato antes de aquecê-lo no micro-ondas é outra maneira de prevenção. Mas o pesquisador admite que essas pequenas iniciativas estão longe de acabar com o problema. O mundo carece de medidas governamentais que limitem a produção alarmante de plástico, oferecendo meios para o descarte correto e incentivando o uso de materiais que não impactem o meio ambiente e, consequentemente, nossa saúde.

Durante o último congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, cardiologistas debateram os estudos mais recentes e relevantes sobre o tema, buscando meios para minimizar os impactos da desgovernança ambiental na saúde cardiovascular. As conclusões das discussões vão gerar um relatório que será encaminhado ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

* Maria Cristina Izar é cardiologista e presidente da SOCESP (biênio 2024/2025); Ricardo Pavanello é cardiologista e presidente do 45º Congresso da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo

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