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A banalização das forças-tarefas

Violência contra a mulher, estrada parada, carne “fraca”. Incluída a que chegou hoje a Fortaleza, Temer criou ao menos 7 forças-tarefas em um ano. Pra quê?

Por Lillian Witte Fibe 19 fev 2018, 16h31

De onde o presidente Michel Temer tira tanta gente para compor as forças-tarefas que ele inventa?
Só esta semana, foram duas, ambas para “situações emergenciais”.
Em plena segunda-feira de carnaval, ele foi a Boa Vista e, sob os holofotes de redes de TV nacionais e internacionais, faturou manchetes ao anunciar, com a pompa que lhe é típica, a criação de uma força-tarefa para organizar a imigração em massa de venezuelanos que assola Roraima.
Na sexta-feira, decretou, com outro tanto de manchetes, a inédita intervenção federal no Rio de Janeiro – abertamente desafiada pela rebelião no presídio de Japeri, 48 horas depois.
Enquanto detentos mantinham 18 pessoas reféns no Rio, Temer anunciava ontem outra força-tarefa. E mandou 36 pessoas para Fortaleza porque um chefe do PCC, o perigoso Primeiro Comando da Capital, foi encontrado morto no Ceará.
Só no ano passado, pelo menos cinco forças-tarefas foram criadas pelo governo federal, três delas no âmbito da segurança.
Em 26 de janeiro de 2017: depois de 26 mortes e sangrenta rebelião no maior presídio do Rio Grande do Norte, 78 agentes formaram uma força-tarefa de intervenção penitenciária, e foram enviados a Natal.
Em 15 de fevereiro, também de 2017: criada força-tarefa especializada na investigação de feminicídios, homicídios dolosos e violência contra a mulher. Seus primeiros braços atuariam em três capitais: Porto Alegre (RS), Aracaju (SE) e Natal (RN).
Duas semanas depois, no dia 3 de março, Temer anunciaria mais uma, para outra emergência: a estratégica BR 163, que vai de Mato Grosso ao Pará, e é usada principalmente para o transporte de soja, estava obstruída por absoluta falta de manutenção. Caminhoneiros sitiados precisaram ser hidratados e alimentados com mantimentos transportados via aérea, pela FAB. A força-tarefa está lá até hoje, segundo informa o site do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Pois não é que, exatos 16 dias depois, o presidente anunciou outra força-tarefa?
Para auditar frigoríficos!
Era um domingo, 19 de março. Dois dias antes, a Polícia Federal havia deflagrado a Operação Carne Fraca, causando outro baque ao agronegócio (já queixoso da precariedade da BR 163).
Temer reuniu-se com 40 embaixadores de países importadores, anunciou uma força-tarefa para fiscalizar frigoríficos, e faturou outra peça de marketing. Levou os convidados para jantar numa churrascaria de Brasília, atestando sua confiança no produto nacional.
Em 9 de outubro, depois que mais de 50 presos fugiram no Piauí, Temer anunciou mais uma força-tarefa, e mandou para o estado 100 agentes de intervenção penitenciária.
O brasileiro não viu, não sentiu, não percebeu, não sabe, até hoje, quais benefícios essas fabulosas missões lhe trouxeram.

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