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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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A meizinha de Bolsonaro

A cloroquina virou uma espécie de remédio capaz de curar tudo

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 4 jun 2024, 14h10 - Publicado em 26 jun 2020, 06h00
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  • O presidente Jair Bolsonaro tem dado demonstrações de desprezo pela ciência, embora dela dependamos para vencer a pandemia da Covid-19. Ao mesmo tempo, determinou a preparação de protocolo sobre o uso da cloroquina, ainda que não esteja provada sua eficácia na cura da doença. Ao contrário, pode acarretar graves efeitos colaterais. A cloroquina virou uma espécie de meizinha do presidente. Em regiões do Nordeste, meizinha é remédio caseiro que, acredita-se, resolve até calvície.

    O desdém presidencial à ciência é patente na crítica ao isolamento social recomendado pela OMS e adotado mundo afora. Nos domingos, Bolsonaro abraça populares sem usar máscara e provoca aglomerações. Fala mal de governadores e prefeitos que decretam quarentenas, citando seus efeitos negativos na economia. “Deixa o povo trabalhar!” O presidente fala como se economia e vida fossem conceitos mutuamente excludentes.

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    O papel da ciência na saúde foi destacado por Joel Mokyr em livro sobre as origens do conhecimento (The Gifts of Athena). “Os novos conceitos de doença e a expansão concomitante da ciência e da economia do lar provocaram transformações tão espetaculares e profundas quanto as resultantes da Revolução Industrial”, assinala.

    A ciência prevaleceu apesar de resistências como a da Revolta da Vacina (1904), no Rio de Janeiro, e outras em diversos países. Foram abandonadas visões milenares que associavam doenças a miasmas, isto é, emanações advindas de vapores tóxicos provenientes de materiais orgânicos em decomposição. O mesmo ocorreu com apelos a chás de ervas, a benzedeiras e à Providência Divina para obter a cura, aliviar dores e espantar maus-olhados.

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    “O presidente fala como se economia e vida fossem conceitos mutuamente excludentes”

    Dizia-se que a sangria, praticada por séculos, curaria qualquer distúrbio. O ex-presidente americano George Washington morreu ao submeter-se à sangria quando começou a sofrer com tosse, coriza e falta de ar. Em 1840, estudos estatísticos provaram a inutilidade da sangria, mas quando ela já havia provocado incontáveis mortes. A propósito, a partir do século XIX a ciência da estatística aprimorou a pesquisa na área médica.

    A vacina contra a varíola surgiu em 1798, e muitas outras depois disso. A teoria do germe propiciou o combate eficaz às doenças infecciosas. A invenção do microscópio permitiu a compreensão dos microrganismos, como as células. A anestesia ampliou o campo da cirurgia. Os antibióticos, começando com a penicilina (1940), constituíram um dos maiores avanços da medicina.

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    A ciência avançou em muitas outras frentes. A assepsia preveniu infecções. O saneamento básico evitou mortes. As famílias passaram a adotar hábitos de higiene e prevenção. A conservação de alimentos melhorou. Evitou-se o consumo de frutas e vegetais estragados. A bacteriologia revolucionou a nutrição. A expectativa de vida cresceu.

    A medicina alternativa sobrevive com a homeopatia e se admite que a quiropraxia cura doenças manipulando-se as estruturas do corpo. É inconcebível desprezar a ciência para o correto enfrentamento da Covid-19 em pleno 2020.

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    Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693

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