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Lição errada sobre inflação

Não é pela oferta que se combate o aumento de preços

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 3 jun 2024, 16h53 - Publicado em 13 abr 2024, 08h00
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  • INOVAÇÃO - Campos Neto, presidente do Banco Central: o serviço se tornará mais sedutor com a criação do “superapp”
    INOVAÇÃO - Campos Neto, presidente do Banco Central: o serviço se tornará mais sedutor com a criação do “superapp” (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    Os petistas costumam atacar o Banco Central (BC), particularmente quando ele aumenta os juros para reduzir a inflação. Nessa linha, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que faltava ao BC “estudar um pouco os fundamentos da economia” e que aumentar juros para controlar a inflação é uma “forma burra”. O “jeito inteligente” seria agir “pela oferta”, pontificou. Nesse caso, o papel do BC seria reduzir os juros.

    De fato, a redução dos juros estimularia a demanda da economia, o que poderia levar as empresas a empregar mais pessoas, elevar os salários reais e assim contribuir para ampliar o consumo. Mas isso só daria certo se houvesse capacidade ociosa — o que permitiria aumentar a oferta sem necessidade de investimentos para expandir a produção — ou se fosse possível elevar as importações para complementar a oferta doméstica. O ministro parece ter se guiado mais pela intuição do que pela teoria econômica.

    “Uma velha alegoria explica o risco: enquanto a demanda sobe de elevador, a oferta sobe de escada”

    Não é nova a ideia de que o relevante é a oferta. O economista francês Jean-Baptiste Say (1767-1832) sugeriu, em livro de 1803, que a oferta criava sua própria demanda. Por exemplo, uma nova fábrica de calçados contratava empregados. A respectiva renda era consumida em vestimenta, o que levava as empresas do setor a contratar novos trabalhadores e assim sucessivamente. Essa tese, contestada logo depois, foi abandonada com a Teoria Geral de John Maynard Keynes (1936), na qual ele provou que o relevante é a demanda.

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    Não é difícil entender as razões pelas quais a tese de Keynes prevalece até hoje. Com efeito, quando o BC baixa os juros, acontece uma expansão do crédito, inclusive do destinado a consumo. A demanda sobe rapidamente. A menos que haja capacidade ociosa na economia ou for viável importar, a maior demanda criará incentivos para criar ou elevar a produção, mas isso levará tempo. Será preciso estudar bem o mercado, elaborar um projeto, adquirir máquinas e construir ou ampliar instalações. Dependendo do caso, todo esse processo pode durar muitos anos. Enquanto isso, o aumento da demanda ocorre em dias ou poucos meses. Haverá, desse modo, um desequilíbrio que resultará em inflação e na queda do potencial de crescimento da economia. Os trabalhadores serão os grandes prejudicados.

    Nos meus quase dez anos no Ministério da Fazenda, usávamos uma alegoria para explicar didaticamente os efeitos negativos de propostas simplórias para estimular a demanda mediante ações voluntaristas. Dizíamos que, nesses casos, a demanda subiria rapidamente pelo elevador, mas a oferta caminharia lentamente pela escada. Se a lição do bem-intencionado ministro fosse adotada, a inflação subiria, em vez de descer. Haveria elevação do desemprego e queda de renda dos trabalhadores. Quem cairia seria a popularidade do governo. Sensatamente, o BC ignorou a lição e manteve seu papel básico, isto é, cumprir a meta de inflação fixada pelo governo. Sem isso, a aula do ministro provocaria um desastre.

    Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888

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