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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

Menos globalização e bem-estar

O mundo vai mudar e é preciso se preparar para a nova realidade

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 4 jun 2024, 12h11 - Publicado em 24 abr 2022, 08h00

Dois eventos com repercussão mundial — a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia — terão efeitos econômicos duradouros e provocarão um recuo na globalização. Cairá o ritmo de crescimento e do bem-estar. Para o Brasil, eles nos manterão distantes do sonho de alcançar o nível de renda dos países ricos. Ou ser a oportunidade para reformas que aumentem a produtividade e o potencial de crescimento.

A globalização é mais antiga do que se pensa. No século XII a.C., os fenícios, exímios comerciantes e navegadores do Mar Mediterrâneo, tornaram-se potência comercial. Sua rede de comércio durou mais de um milênio e facilitou o intercâmbio de culturas, crenças, ideias e conhecimento em antigas civilizações.

Durante séculos, o ritmo da globalização foi lento. A interação ocorria apenas entre países muito próximos. A aceleração começou com os Grandes Descobrimentos e se intensificou a partir do século XIX, sob o impulso de avanços nas tecnologias de transporte e comunicações, que aumentaram a integração entre povos, países e empresas.

“A evolução digital permitiu produzir onde fosse mais barato e reduzir os custos dos produtos”

Nos anos 1990, ocorreu o que Dani Rodrik, da Universidade Harvard, denominou de hiperglobalização, derivada da evolução da tecnologia digital e da internet. Nasceu a rede mundial de suprimentos. Em vez de criar ramos industriais para expandir a economia, bastaria fazer parte da rede, produzindo partes, peças e componentes.

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Bens e serviços passaram a ser fabricados nos lugares em que fosse mais eficiente e barato. A Apple americana cuida apenas do marketing e do design do iPhone. O restante é fabricado em outros países, principalmente na China. Se fosse produzido nos Estados Unidos, custaria mais do que o dobro.

A prioridade passou a ser a eficiência. Com o fim da Guerra Fria, parecia que o mundo ficara mais seguro, integrado econômica e financeiramente, orientado por regras, e sem pandemias nem guerras. Desapareceram preocupações geopolíticas e com a segurança.

Isso começou a mudar com a pandemia. A interrupção nas cadeias globais de suprimento, que paralisou fábricas nos países desenvolvidos, alertou para a dependência do fornecimento de regiões distantes. A origem asiática de grande parte da oferta de medicamentos e vacinas assustou. Discutiram-se estratégias de produção local.

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A invasão da Ucrânia foi um choque. Em pleno século XXI, a Rússia violou ideias e tratados que atribuíam à diplomacia e à arbitragem o papel de resolver conflitos de forma pacífica. Conquistas territoriais eram inaceitáveis, assegurando-se o direito dos estados-nação de definirem soberanamente o seu futuro. Confiar no suprimento de petróleo e gás pela Rússia, como fez a Europa, revelou-se um erro.

O mundo vai mudar. A segurança vai se impor sobre a eficiência. Para o Brasil, além da segurança, a prioridade deverá ser, repita-se, a elevação da produtividade, incluindo estímulos à inovação. É como nos credenciaremos a integrar a rede mundial de suprimentos agora mais fragmentada e mais próxima de países ricos.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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