A cruzada sem sentido de Janaina Paschoal
Deputada estadual mais votada da história do país e pré-candidata ao Senado tem praticamente um só assunto no Twitter
Na esteira do impeachment de Dilma Rousseff, cujo pedido ela ajudou a formular e a defender no Congresso, a advogada e professora de direito da USP Janaina Paschoal (PSL-SP) amealhou 2,1 milhões de votos e se tornou a deputada estadual mais votada da história do país em 2018.
Pouco mais de três anos depois, cansada da vida na Assembleia Legislativa, ela planeja a sua candidatura ao Senado, embora ainda nem saiba exatamente a qual partido estará filiada – ela já anunciou que irá sair do PSL na janela partidária, em abril. A julgar pelo seu comportamento no Twitter, a deputada aposta em apenas uma pauta: atacar a vacina contra a Covid-19, por ironia, no estado que foi pioneiro no uso do imunizante, em janeiro de 2021, há exatamente um ano.
Com os piores argumentos do negacionismo rasteiro que se instaurou nas redes sociais, alavancado pelo bolsonarismo mais ensandecido, Janaina praticamente só fala disso no Twitter. Nos últimos dez dias foram ao menos 35 posts sobre o assunto, além de dois contra o isolamento social – no mais, foram das publicações contra o PT/Lula, três sobre a eleição em São Paulo e um sobre o seriado Cobra Kai.
Nos posts relacionados à vacina, Janaina tem duas preocupações básicas: 1) criticar a obrigatoriedade da imunização, que não existe no país (daí ela ataca o chamado passaporte da vacina e qualquer tentativa de limitar a circulação de não-vacinados) e 2) questionar a própria eficácia e segurança do imunizante, inclusive divulgando supostos casos de vítimas de efeitos adversos — fake news ou distorções, na quase totalidade das vezes.
Mas a vida de negacionista não tem sido fácil. Seus posts são criticados, rebatidos ou ironizados pela ampla maioria dos usuários. Boa parte deles ameaça acionar a nova ferramenta disponibilizada pelo Twitter na segunda-feira, 17, para denunciar publicações que contêm desinformação
No lugar de destacar o erro de Queiroga, a Imprensa não deveria estar interessada em entender as circunstâncias das mais de 3000 mortes NOTIFICADAS como decorrentes das vacinas? Aliás, até agora, os efeitos adversos eram negados peremptoriamente. Pelo menos, começam a admitir…
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) January 18, 2022
Ela já deu a senha do Twitter pro Carluxo. Só pode ser essa a explicação.
— Leocs (@Leocs03601188) January 18, 2022
Com isso, Janaina acaba tendo que dedicar boa parte da sua energia para ficar se defendendo das críticas. Algumas vezes, chega a esboçar um mea culpa, antes de voltar a novos ataques.
Recebo com humildade todas as críticas que me são dirigidas. Tenho muito respeito por todos os profissionais de saúde e posso ter errado ao compartilhar uma postagem muito assertiva sobre os efeitos colaterais das vacinas. Não obstante, gostaria de ter uma análise técnica sobre o
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) January 17, 2022
Com a sua atuação nas redes, a deputada se junta a outros célebres críticos da vacina que se valem de desinformações e distorções, como os deputados Osmar Terra (MDB-RS), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF) e influenciadores bolsonaristas especializados em espalhar fake news nas redes sociais.
Além da gravidade do ataque sistemático contra uma medida importante para reduzir as mortes e os casos graves na pandemia, a cruzada de Janaina é mais bizarra ainda porque eleitoralmente não faz sentido: pesquisa Datafolha divulgada nesta semana mostra que em São Paulo, 81% aprovam o passaporte da vacina e 79% é a favor da vacinação de crianças de 5 a 11 anos de idade.
A sua pregação para o cercadinho negacionista não faz sentido porque esse contingente não atinge nem 20% dos entrevistados em São Paulo, percentual que seria insuficiente para elegê-la ao Senado, como pretende — apenas uma vaga estará em disputa neste ano. Como Janaina pretende se eleger a um cargo majoritário contrariando oito de cada dez eleitores do estado?